A morte. Uma metáfora?


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

Uma coisa  são as  inúmeras conquistas no campo da tecnologia e da ciência neste novo século. È inegável tanta  conquista! Entre estas  conquistas – a da longevidade - nunca se viveu tanto, inclusive com uma razoável qualidade de   vida, pelo menos é o que afirmam as autoridades. A vida enfim  está às “mil maravilhas”? Não é o que nos responde os dados de um relatório  divulgado ontem, quinta-feira,  pela Organização Mundial de Saúde(OMS)  sobre o número de suicídios em todo o mundo. Segundo este  relatório, a cada 40 segundos, uma pessoa comete o suicídio no mundo.  Ainda de acordo com este relatório, estima-se que  800 mil pessoas se suicidam a cada ano. Por que diabos nos matamos?

Ao longo deste desse texto vamos nos afogar numa profunda reflexão a respeito da existência humana. Para isso vou recorrer a  outro texto já publicado por mim. E que hoje me servirá de  uma espécie de “barco inflável” com o qual tentaremos atravessar o oceano indomável da vida!

“O homem é o lugar de travessias. A do inferno então, às vezes não tem ponte alguma – só atoleiro. É a abrupta coisa? Ou apenas o homem naquilo que em si se oculta”?

Ora,  não há como “ir ao inferno” sem concebe-lo como um lugar possivel dentro de nós. O dito aqui também se refere ao céu. Isto é, ninguém irá ao céu se este não for um lugar, já habitado por nós. A esta minha fala quero acrescentar o seguinte: nós somos tudo aquilo no que podemos nos transformar diariamente!

A propósito,  nesta semana que se finda, eu conversava com uma jovem que me relatara entre coisas, as suas várias tentativas de cometer o suicidio.  Da sua última tentativa ainda podia ser visto uma marca no pescoço. O que ela via para querer fazer isso? Uma imagem (sempre feminina! pelo menos em todos os casos que eu pude acompanhar),  lhe “convencendo” de que o melhor para sua “tragica existência “ – seria a morte! Imagem de quem? – dela própria, isto é, como resultado dos  desdobramentos dos seus conflitos. Isso, segundo  o meu ponto de vista (não é dele que estamos a falar?).· Quando eu chamei atenção para esta jovem de que esta imagem poderia ser ela mesma, eis que eu percebi o quanto esta em paz ficou. Ter a consciencia de que está sendo atormentado por si mesmo, nos parece ser  mais suportável. Pelo menos no que diz respeito a esta jovem (em outros também), se justifica  esta tese –, ontem ela me disse que estava se sentido bem melhor! Ufa! Graças a Deus?

Os jovens nunca foram tão atormentados quanto nos dias de hoje. Dai a alta incidencia de suicidios entre os jovens? Parece que sim! E digo mais, numa vida onde “o gozo” é negado, tenho certeza que Freud concordaria comigo, a morte pode nos parecer mais “excitante”. Vi isto nos olhos e na fala desta jovem! Que travessia esta, não?

 

“Dante Alighieri fez por nós esta travessia. Nunca havíamos ousado tanto – só invejado os deuses! Mas é claro que tudo isso tem um preço: aquele em que o homem se esfola para dá sopro aos outros. Isso quando não fica por lá estrepado – Dante ainda não voltou”?


A vida humana seria pior, se esta  não passasse de uma mera metáfora. Felizmente a morte, pelo menos a que buscamos com as próprias mãos – é metafórica também – tentar compreende-la é  tão facinante, quanto se pintar uma obra de arte! Pintar eu não pinto nada, mas me sindo às vezes pescado pela pintura que se escancara. A morte pode ser assim. Ou seja, da morte não entendemos nada (ainda bem!), mas há algo nela que sempre nos atrai – talvez aquilo que há em nós que, já na morte  nos acena?

 

Tô indo?

 

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