A sociedade atual vive numa bolha de sabão: entrevista concedida a uma TV
Por Gilvaldo Quinzeiro
Este texto é constituído de
tópicos, que nortearam a minha fala/entrevista concedida ao jornalista Julimar
Silva, no programa Debate Democrático exibido hoje, dia 25, na TV Sinal Verde.
I Como o ritmo da sociedade atual interfere se positivamente ou
negativamente na vida do jovem?
1 – Na verdade, para falar desses assuntos de natureza
tão complexa, que exige um olhar multidisciplinar, isto é, da
filosofia, antropologia, sociologia e psicologia, não nos será fácil. E para
facilitar a minha explanação, não há outro jeito, senão fazendo uso de metáforas.
2 . Assim sendo, para início de conversa, eu vou comparar
a nossa realidade ou ritmo da sociedade atual, conforme a sua pergunta, a uma
grande bolha de sabão, e nós, dentro desta enorme bolha de sabão, não passamos
de escorregadios peixes, unidos por um
gigantesco esforço para conter a respiração a fim de evitar o estouro da bolha.
2 – De modo que, como resultado desse esforço de conter a
respiração, para assim, evitar o estouro da bolha, surge um dos sintomas
físicos mais característicos vividos por estes inquilinos desta grande bolha de
sabão, a saber, o gradativo atrofiamento dos sentidos. Para ser mais enfático,
hoje os nossos sentidos estão resumidos em apenas dois órgãos, quais sejam, os
olhos e boca.
3 – Olhos e boca que, que estão a se abocanharem para saber quem substituirá o outro. Eis
aqui a janela escancarada para o consumismo – outro sintoma também presente na
atual sociedade.
4 – Pois bem, os jovens são a pele desta tênue bolha de
sabão. Por isso, estão perigosamente sempre à procura de válvulas de
escape. Entre estas válvulas de escape estão
a ostentação, as drogas, a violência, a loucura e o suicídio.
II Como os professores podem melhorar sua prática a partir dos
estudantes que eles recebem, muitas vezes pessoas que não têm valores
sedimentados?
5 - É aqui que se encontra um dos nossos paradoxos,
qual seja, ao mesmo tempo em que a sociedade espera da escola respostas prontas
para todos os problemas vigentes; problemas estes que muitas vezes não compete
a escola, mas, a família -, esta mesma sociedade não valoriza a escola. Basta
ver o número de casos de total desrespeito e abandono, em que a escola se encontra. Diante da total falta de respeito da sociedade em relação a
escola, a educação e por conseguinte ao professor – quem ainda desejará ser professor?
Se hoje, diante da crise reinante na saúde, estamos tendo que importar médicos
de outros países; crise igual ou pior acorrerá quando não houver quem se
disponha ir para uma sala de aula.
6 – A escola, portanto, é
o grande sopro com o qual poderemos nos desvencilhar desta bolha de sabão. Mas
para isso, entretanto, é preciso a valorização e a capacitação dos professores.
Em outras palavras, a sociedade precisa ser parceira da escola.
III A família pode
retomar ao controle dos filhos?
7 – A família é a espinha dorsal de qualquer que seja o
modelo de sociedade, neste caso aqui citado, desta grande bolha de sabão. É
aqui onde toda a respiração nos falta, dado a grande pressão do estilo de vida
atual.
8 – Ver casos de mães que se esqueceram dos seus filhos dentro
do carro, quando estas estavam indo à caminho do trabalho, e que deveriam antes parar na creche,
de sorte que só percebem o erro, ou seja, do esquecimento do filho dentro do
carro, só à tardinha ao pegar o carro para retornar para casa - é um sinal de que até o instinto maternal está
sendo afetado pelo ritmo da sociedade atual.
9 – Em outras palavras, um ritmo de vida que arranca sem
pena e nem dor, o coração de mãe, precisa urgentemente ser reformulada, do
contrário, entre nós não haverá quem possa ainda ser chamado de gente, e sim de
coisa.
10 – Portanto, saber se a família vai voltar a exercer o
controle dos seus filhos é uma pergunta, que dificilmente será respondida, pois
depende, do resultado das transformações pelas quais a sociedade passa.
IV - A sociedade é mercantilista? Como essa valorização
excessiva do dinheiro e do consumo prejudica a vida em sociedade?
11 – É Aqui onde residem
os pilares desta grande bolha de sabão.
É aqui onde os nossos cincos sentidos são reduzidos para apenas dois, ou seja,
aos olhos e a boca. É aqui onde somos transformados em lambedores de vitrines.
12 – A sociedade
mercantilista, de mercado ou capitalista, portanto, nos cria com coração de
plástico e cérebro reptiliano. Daí, o nosso rastejar por coisas fúteis e
dispensáveis.
13 – As cenas de pessoas
que se consideram instruídas, passando dias numa fila de uma loja, a espera de
um lançamento de um produto, quando tal produto será disponibilizado em todo o
mercado – são simplesmente bizarras!
14 – Por fim, o ritmo do
nosso tempo não é mais aquele ditado pelos ponteiros de um relógio, mas, pela
vida útil dos objetos. Então, como os objetos são feitos apenas para durar dias
ou horas, assim como a vida útil de alguns insetos – somos homens e mulheres
com seu ciclo biológico alterados.
Comentários
Postar um comentário