A serpente emplumada: a nossa ‘imagem e semelhança. E a de Deus?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Será um pássaro? Um avião? Não! É a ‘serpente emplumada’ – ninho de todo pensar
mesoamericano – trovão da nossa realidade espinhosa e desapercebida!
A serpente emplumada é a principal divindade cultuada pelo
povo olmeca, maia e asteca. Sim, estes povos também possuíam seus deuses –
nascidos do seu ‘ninho imaginário’. E graças a sua fé, sua monumental arquitetura!
Foi a serpente emplumada, segundo a tradição dos olmecas,
maias e astecas, que deu de presente ao homem, o milho – este que é um elo
entre todos os povos ameríndios.
A serpente emplumada, que, depois de sofrer algumas
‘metamorfoses’, era vista lá no céu como o planeta Vênus, para o qual todos os
olhos mesoamericanos deveriam estar voltados – é a imagem a ser refletida com
representação das faces que por nós há muito tempo foram
esquecidas?
O que nos interessa aqui, antropologicamente falando, é
como esta deidade, a serpente emplumada, pode ter sido a ‘imagem e semelhança’
de toda a população mesoamericana. É claro que não seremos capazes de traçar
aqui nenhum ‘espelho’, porém, arriscaremos pensar ou lançar luzes sobre seus
fragmentos!
O que nos interessa
aqui é, portando, repensar a natureza do nosso ‘umbigo imagético’ e do quanto
estamos presos a ele ou não.
Em outras palavras, como a partir desta imagem, a da
serpente emplumada, os povos da mesoamérica, em especial, os maias, foram capazes
de elaborarem uma visão sobre si mesmos e sobre o cosmo?
Por coincidência, foi graça a uma outra visão, a de
Cristóvão Colombo, que este mundo foi ‘descoberto’, mas não seu ‘ninho
imaginário’. Colombo, no entanto, em que pese toda a sua astúcia, não foi capaz
de, em aqui chegando, saber que estava ‘perdido’ – aliás este se encontrava muito
distante do seu destino – as índias.
Deus sabe o que afinal, eu estou pensando agora! – Ainda
bem!
Ora, falar de Deus, ao menos no âmbito da concepção humana
(não há outro âmbito) é, portanto, aludir, ainda que com eloquência, ao homem.
Isso é o que eu chamo do nosso ‘ninho imaginário. Em outras condições, as de Deus propriamente
dito, e não as dos homens – aquele, isto é, Deus, é certamente outra coisa –
bem diferente do que pensamos. Ou será que Deus pode ser resumido ao que dele
imaginamos?
E quanto ao homem com seu Deus cuja representação física é
a da serpente emplumada, era o quê? Quanto a nós que falamos de um Deus ‘invisível’
que imagem temos de nós mesmos?
Nestes dias de tantas falas eletrônicas, inclusive sobre Deus,
eu fico a pensar: será esta ‘seca’, apenas de homens?
Portanto, sejam quais forem as respostas para estes questionamentos,
haveremos antes volver ao nosso ‘ninho
imaginário’, pois é aqui que também fincamos o nosso umbigo.
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