SEJAMOS CONSTRUTORES DE NÓS MESMOS!
Por Gilvaldo Quinzeiro
O texto abaixo me serviu de referencia numa
palestra realizada no ultimo dia 15, no Encontro Pedagógico 2018, da rede
estadual de ensino do Maranhão, a qual eu também pertenço na condição de
professor. A referida palestra foi acompanhada musicalmente pelo violonista
Paulo Santos.
As
notas musicais estão para a música, assim como os números estão para a
matemática. Pitágoras soube como ninguém compreender esta relação, e, por
conseguinte, fazer desta relação um dos mais complexos e seguros “edifício
filosófico”.
Em
outras palavras, somente um homem dotado de uma escuta privilegiada, tal como
fora a de Pitágoras, é capaz de realizar construções cujos alicerces
sustentarão a humanidade inteira.
Pois
bem, caros colegas, Pitágoras sabia quem ele era. Isso de certa forma facilitou
o erguimento da sua obra!
Mas, quanto a nós o que afinal somos ou no
que afinal nos transformamos? Há entre nós quem seja mais um de nós? Responder
esta pergunta neste encontro oportuno, que é este encontro pedagógico, é tão
necessária e urgente quanto saber jogar a corda para alguém que está se
afogando em um rio.
Ou
seja, antes de socorrer alguém se afogando, precisamos nos dar conta, primeiro,
de que estamos no mínimo com os pés fincados no chão.
Mas,
caros colegas, nas condições atuais, o que afinal ainda permanece em pé? Eis
outra questão da maior importância para se responder!
Em
outras palavras, e agora parodiando outro gigante pensador grego, desta feita, Heráclito,
o que de fato construir neste rio de passagens e de passageiros, no qual, não
se banha nele duas vezes? Que tipo de edifício, de edificação é capaz de
suportar a fluidez das coisas, que tornam a nossa vida semelhante à bolha de
sabão?
Como ser inteiro diante de tudo quebradiço? Como permanecer gente a despeito do bicho que
já nos tornamos?
Portanto, caros colegas, o dito aqui nos leva
a pensar que, mais do que necessidade de construirmos pontes, estradas e
portos, o momento urge que sejamos construtores de nós mesmos!
O
momento urge que nós nos reinventemos sob pena de termos chegado ao pleno desgaste e esgotamento do edifício
humano!
Pois bem, muito se tem falado das alterações
climáticas e suas consequências reais e imediatas para a humanidade. Sim, de
fato, vivemos uma situação irreversível no que diz respeito às alterações
climáticas.
Mas
pouco se tem falado nas alterações de natureza psíquica em curso.
Hoje
se fala em crise de paradigmas, crise civilizatória, no mal-estar da
civilização, ou seja, crise disso e daquilo, incluindo aqueles mais apressados
ou mais desesperados que anunciam a cada ano: o fim do mundo!
Eu digo: o mundo está literalmente grávido
doutro mundo, mas até este vir dá a luz, nós seremos suas dores e contrações.
Sim,
caros colegas, atentem para o seguinte: somos ao mesmo tempo parto e parteiros
nestes tempos difíceis. De sorte que vivemos condições extremas; condições
estas que nos exigem ao mesmo tempo gigantescas ações e ao mesmo a ponderabilidade.
O Dito aqui nos remete a outro grande
pensador grego, Sócrates, e o seu parto das ideias.
De
fato, precisamos entrar em trabalho de parto no sentido socrático.
Pois
bem, todas as tentativas de construções de utopias, revoluções e construções de
um mundo melhor para todos, pelas quais muitos deram seu suor, seu sangue suas
vidas, foram barradas em uns pequenos detalhes, mudaram-se as instituições e os
nomes das coisas, mas, a parte mais importante do processo foi esquecida: as
transformações no interior dos homens.
Em
outras palavras, é impossível mudar o mundo, se se a nós mesmos não formos capazes
de mudar. É impossível se acreditar na paz, se se já não formos capazes de nem
mesmo de cumprimentarmos uns aos outros.
Neste século devemos pisar pela primeira vez
em Marte! Que grande feito será este para a humanidade! Todavia, em relação à
conquista do nosso mundo interior, ainda estamos engatinhando!
Do
que adianta, pois, os avanços no campo da ciência e da tecnologia, se se a
respeito de nós mesmos, nada sabemos!
Quão
é atual e necessária a frase dos longínquos tempos dos gregos: conhece-te a ti
mesmo!
A tal frase, nos remete, por conseguinte a Sócrates,
mais precisamente em seu esforço de realizar o parto das ideias. De fato,
precisamos entrar em trabalho de parto no sentido socrático.
De fato precisamos nos reiventar!
Muitas
coisas pelas quais hoje matamos ou morremos têm o ciclo de vida da maioria dos
insetos. Hoje, por exemplo, você compra um objeto numa loja, para, mais tarde,
este mesmo objeto está envelhecido. Isto é, tudo se torna volátil e poroso.
Assistimos
hoje também, o deslocamento do prazer, ou seja, o prazer não está mais no ato
de sentir o prazer, mas em ser visto sentindo prazer. Um casal de jovem, não se
contenta mais está a sós em sua intimidade, mas em compartilhar com o mundo uma
cena, que era para ser vivida e sentida a dois.
Perdemos,
portanto, a ideia de interioridade, e tudo ganha o status de exterioridade.
O
jovem não se satisfaz mais em curtir a sua música sozinho, senão, quando esta é
também ouvida por toda a sua vizinhança.
Palavras como paredão, pancadão são sinônimos para aquilo que podem também
estraçalhar os tímpanos.
Até
a criança, não sente mais o prazer em brincar, pois, o ato do prazer foi
deslocado para o ato de comprar.
Ora,
caros colegas, se se as coisas mudaram de tal maneira que hoje passamos a
habitar o lado de fora, em vez do lado interior de nós, não temos dúvidas de
que, não passamos de meros pintos pelados, em movimentos erráticos à procura do
ninho.
Por fim que as dores do momento não nos impeçam
de nos tornar melhor, porque assim como a identidade da vela consiste apenas
quando esta se mantem acesa, ser gente, a despeito de tudo que já devoramos,
consiste no gigantesco esforço de não nos tornamos piores!
Muito Obrigado!
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