"Não dói o útero, e sim a alma".
Por Gilvaldo Quinzeiro
A frase acima é de uma garota de 17 anos, vítima de um
estupro coletivo (30 homens), ocorrido no Rio de Janeiro. O caso vem ganhando
muita discussão em todos os setores da sociedade. O número de estupro vem
aumentado significativamente no Brasil. O que dizer sobre este assunto? Este é
o propósito desse texto.
“Não dói o útero, e sim a alma”. Esta frase é por si só perfurante: nela não
há dor que não seja sentida.
Bem, o dito aqui não pode ser interpretado de outra forma:
estamos em ‘carne viva’. Ora isso implica em muitas coisas:
Primeiro, estamos vivendo sem a pele protetora. Isto é,
somos ‘minhocas’ a perfurar o chão. O chão onde somos todos expostos. Segundo:
o gozo se tornou o ‘parafuso’ das nossas dores. Terceiro: os olhos, não os
nossos, mas os dos outros, passaram a ser a nossa genitália. Ou seja, nada que
não for feito à luz dos olhos dos outros, não nos oferece o ‘gozo’.
Sim, estamos falando também do ‘deslocamento da genitália’,
assunto este que já mereceu a nossa atenção em outro texto. Aliás, é bom que se
diga que vivemos um deslocamento de tudo, inclusive dos polos magnéticos da
terra – será mera coincidência?
Mas voltando ao ‘gozo’. O ‘gozo’ que por si só é
discutível, no estrupo, ele expõe o quão é frouxo os amarradios que nos tornam
‘humanos’. Ou seja, o ‘humano’ não é algo fixo, pelo contrário, está sujeito à
toda sorte de condições, incluindo aquelas em que lutamos para não nos tornarmos
‘bichos’.
O temor de que os estupros, inclusive os coletivos, se
tornem uma nova ‘febre’, é real. Vivemos sob a égide do imagético: estamos
‘grávidos’ do que ainda não vimos!
No estupro não há nada que possa permanecer na intimidade. Aliás,
o estrupo é a própria violação e exposição da intimidade. Tudo é feito como se
estivesse na presença dos olhos dos outros. E quando este é coletivo, então, os
olhos assumem status de ‘metralhadora’ – para usar uma expressão que nos remete
também às outras notícias mais lidas em nossos jornais.
Por fim, se estamos em ‘carne viva’ quem afinal ‘goza’ por
nós ou em que diabo se tornou o ‘gozo’?
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