Uma breve reflexão sob a ótica freudiana acerca dos nossos dias
Por Gilvaldo Quinzeiro
O Brasil vive hoje diante de seu grande espelho. A internet
com suas redes socias é o que atrai e trai ao mesmo tempo o eclipsado
sujeito. Todos nós nos tornamos
praticante de voyeurismo – o prazer de ver o outro nu ou numa cena
de intimidade sem, contudo, ser visto. Tudo feito às escondidas! Sigmund Freud (1856-1939) veria
isso como uma confirmação das suas teses! Neste sentido, as identidades são
colocadas à prova. Muitos ganharam e
perderam rostos. Outros se despiram para nunca mais sentir vergonha.
Quem somos nós afinal? Quem se reconhece enquanto tal? Ora,
se é verdade que estamos diante de algo da ordem do especular, isso implica
dizer duas coisas: primeiro que estamos diante de nós mesmos -, sim, por mais vil
e abjeto que sejam as coisas, que nos provocam asco – estamos diante de nós
mesmos! Segundo, estamos diante da dimensão do fantasmagórico. É este último, que é a junção do primeiro que
torna o quadro mais complicado: ninguém se assume na condição de assombroso – este
sempre é o outro.
Estamos, pois, aprisionados a este grande espelho! Tudo é visto sobre a ótica do retrovisor. O
presente se tornou trincado demais para percebermos as nossas verdadeiras
faces.
Há tempo eu venho falando, por exemplo, no crescimento de
dois grandes movimentos sociais, que, não obstante às suas faces antagônicas,
não só se constituíram algo da ordem especular, por isso causador de tanto
impacto visual, como ganharam os espaços das ruas, a saber, o movimento
evangélico com suas marchas e pregações e do LGBT também com suas bandeiras e
demandas. De modo que, nestes dias
polarizados entre direita e esquerda, o primeiro foi momentaneamente bem-sucedido,
com a vitória de Bolsonaro, do qual se tornou seu principal cabo eleitoral. É
aqui onde muitas preces apressadas poderão fazer ruir toda uma teologia(?).... E
antecipar uma possível crise de cunho espiritual (?) – coisa que também já
tenho falado. O segundo, ainda que deslocado
mais à esquerda, não foi nem entendido e nem capitaneada por aquela, e, com uma
pauta mais difusa, acabou sendo derrotado -, terá este fato como consequência o
eclipsar do sujeito, e por seu turno, o seu adoecimento?
Moral da história: todos nós nos tornamos devoradores ao
mesmo tempo que dependentes da espantosa face do outro.
Por fim, bem-aventurados aqueles que verdadeiramente amarem uns
aos outros sem precisar acotovelar-se na gigantesca fila dos que vão para os
céus!
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