A arché do meu autorretrato
Por Gilvaldo Quinzeiro
A palavra é o barro do Outro que me faz cego de mim.
Quisera que desse barro, eu fizesse do
silêncio, meus ouvidos!
Todavia, em que
pese, a permeabilidade da matéria-prima da qual eu sou feito, ei de ser o pote e água ao mesmo tempo.
Assim sendo, sou a flecha arremessada para dentro dos
meus escuros em cuja ponta arde o fogo!
O fogo que, como dissera Heráclito, se acende com medida
e se apaga com medida.
Não é, pois, na água de Tales de Mileto que me banho todos os dias, mas no “fogo” das contradições que me faz
inteiro!
A palavra tem pernas curtas. Mas é no lugar da “coisa”
que aquela substitui a mão, assim como todo e qualquer cambito!
O Outro também é pó – motivo da minha risada! Quisera um
giz feito das minhas salivas para redesenhar todos os meus espantalhos.
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