O trágico é não se conhecer
Por Gilvaldo Quinzeiro
“Deste o começo do mundo”, como diria os antigos mestres
e contadores de histórias, o conhecimento e a ignorância distinguem os deuses e
os homens. De lá para cá, a recompensa e
o castigo; a vida e morte; vitória e derrota são compreendidas como um resultado
da evolução de uns ou da involução de outro.
Enfim, ‘o trágico’ tem sido parte daqueles que não
acenderam a outra ordem hierárquica.
Pois bem, ‘o trágico’ é aquilo que se repete, quando um
enigma não é decifrado. Cada um de nós é um enigma, logo, somos também trágicos
à medida que nos desconhecemos.
Decifrar um enigma é, pois, alterar o próprio destino!
Para os egípcios e
os gregos antigos, por exemplo, a decifração um enigma era uma questão de vida
ou morte!
Em Édipo Rei Antígona (de Sófocles), o trágico e o enigma
são partes do mesmo espelho. Mas,
trata-se de um espelho outro – aquele em que nada se ver, posto que seja da
ordem daquilo que nos é ocultado.
Ora, o dito aqui nos remete à esfinge. E o que é a
esfinge neste ponto de vista do trágico e do enigma, senão a nossa face – a fantasmagórica!
O ato, portanto, de buscar a si mesmo como fonte de
mistério e do enigmático é a ‘porta’, que abre da caverna escura, tal como a
contemplara Platão em ‘O Mito da Caverna’.
Pois bem, ninguém mais do que Sigmund Freud (1856-1939), tomou a si mesmo
como objeto de estudo, ou seja, os seus traumas, a sua mais profunda caverna
escura.
Sigmund Freud para
além, da interpretação do seu tempo, viu que a tragédia de Édipo, por exemplo, é
em certo sentido, o drama pessoal de todos nós.
É de Freud a
frase: “Aquilo que você não lembra, se repete”. Ou seja, o trágico poderia ser
evitado, se tivéssemos consciência dos nossos enigmas.
Ora, somos o ‘cavalo’, quando do próprio cavalo, nada
entendemos. Quem somos afinal, eis o maior de todos os enigmas: não decifrá-lo
é repetir o inevitável, isto é, o trágico.
Alexandre, o Grande (356 a.C. — de 323 a.C),
conquistou o mundo todo que lhe foi possível em sua época, todavia, não passou
de uma espécie de ‘cavalo’, que de si,
nada sabia!
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