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Mostrando postagens de setembro, 2014

O espelho da crise

Por Gilvaldo Quinzeiro   Não há face bonita, quando o couro da barriga se encolhe de fome. Não há política que se sustente, quando a economia perde seus pilares de   sustentação. Toda e qualquer civilização tem seus limites. A barbárie vem tão mais facilmente, não obstante,    todo o esforço para se manter distante dela. As estradas que nos levam a “Roma”, não nos impedem que ao longo do seu percurso, não nos transformemos em lobos. Aliás, em certas condições, como as de barbáries, o que de fato diferirá os homens, dos outros animais, são suas fezes.   Eis por que temos do que nos orgulhar? Este texto vem refletir acerca de uma onda de intolerância que vem ganhando força nos últimos dias. Seja, a intolerância no âmbito racial, seja, no âmbito   religioso. Ou seja, a civilização que de alguma forma está perdendo as suas rédeas,   agora começa a procurar os seus culpados! No Brasil, o futebol tem sido campo de recorrentes intolerâncias para com os jogadores negros – a mesma or

A felicidade

Por Gilvaldo Quinzeiro   A felicidade, dizia   eu, numa mensagem que escrevi hoje   para meu filho, pela passagem do seu aniversário,   “não   está em lugar algum, mas no que nos move a sua procura. Isto é, dentro de nós mesmos! Portanto, ser feliz é ter se tornado em sua própria árvore. Contudo, isso não nos afasta o perigo das tempestades, mas chegar a ser a condição de árvore, é estar plantado em si mesmo. Seja feliz na luta de todos os dias”! De fato, por mais que se busque a felicidade, e geralmente esta busca se dá para fora de nós, isto é, nos lugares, nas coisas e até em outras pessoas, contudo,   mesmo quando conquistados estes   tais lugares, estas tais   coisas ou estas   tais pessoas nas quais supomos encontrar a felicidade, eis que nos deparamos que ao longo desta procura, acabamos esmagando quem antes deveríamos já ter encontrado: a nós mesmos! A felicidade, portanto,   não é um porto de chegada ou de saída. A felicidade é um permanecer para dentro de si mes

Uma prosa para além da tarde

Por Gilvaldo Quinzeiro   Hoje, no meu passeio matinal pelas ruas do centro da cidade,   tive  o prazer de reencontrar o meu velho amigo,   o educador, romancista e pensador J. Cardoso. Há dias que não nos encontrávamos, pois, o mesmo está residindo em Fortaleza. E,    como de costume,   sentamos no banco da praça da Matriz, e passamos a manhã inteira falando a respeito da existência.   Na conversa de hoje, o livro do astrofísico brasileiro, Marcelo Gleiser, "Criação Imperfeita: Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza" – foi o nosso ponto de partida. A astronomia é uma das minhas paixões! Saber que sou uma “poeira cósmica” me faz habitar   para além dos meus conflitos existenciais! Na nossa conversa também falamos de Platão, Aristóteles e   Protágoras. Mais especificamente, em ralação   ao   que estes gigantes da filosofia foram capazes de erguer com seus pensamentos! “Tudo o que foi escrito até agora”, dizia J. Cardoso se referindo a uma citação de um pensador co

A mão. Uma reflexão sobre a mutilação do sujeito

Por Gilvaldo Quinzeiro     Que realidade ainda está por vir, quando,   a que nos escapa,   nada   fizemos para contemplá-la?   Calma, nem tudo é tão volátil assim. Ainda nos resta a mão que não mudou ao longo desse tempo todo!   A mão do homem é a mesma ao longo de milhares e milhares de anos. A mesma mão com a qual se identificava em suas linhas, o passado e o futuro do homem. O que mudou neste tempo todo, no entanto,   é “a coisa” sobre a qual a mão se fecha, e com a qual o homem passa a se identificar.   Aliás, coisa há no mundo pela qual a mão se seca, enquanto o homem se transforma em pantanoso solo – nada nasce senão “a coisa” em que o homem se afunda.   Ora, dizer que a mão do homem permanece a mesma, ao contrário da “coisa” que a mão segura, é chamar atenção para o poder mutilador   da “coisa”, no mesmo instante em que a mão nos escapole. É nesta condição,   portanto, que a mão   toma uma   dimensão outra – aquela em   que   o dedo que estamos   agora a apontar

A primavera. Uma lição sobre os cheiros

Por Gilvaldo Quinzeiro Enfim, chegou   a primavera trazendo     se não   o cheiro das flores, mas o da terra molhada   que nos afunda de volta   a infância. Que chuva! Acordei esta manhã me lembrando do cheiro dos quintais cobertos de folhas de mangueira ou de cajueiro!   Quão distante as cercas que me separam da infância!...Quão frouxas   as rédeas do cavalo que me arrasta para as incertezas das próximas estações...Quão menino ainda me sinto para me embrenhar por dentro dos meus abismos! Sou   do tempo em que   no mês de maio, por exemplo, se colocava flores na janela, e que no cair das primeiras chuvas, se andava pelos caminhos atolando o pé na lama! Tudo era tão verdejante e cheiroso! Não há tempo perdido. Há sim o tempo em que não se consegue dar tempo para a chegada da primavera! O tempo é uma escrita nas asas azuis de uma borboleta, a sua magia, só os alquimistas serão capazes de pertencer. Sempre que falo destas coisas, logo me vem à imagem de um Leonardo Da

O desejo, a palavra e o ovo frito

Por Gilvaldo Quinzeiro     O desejo é como uma folha flutuando sobre a correnteza de um rio – a força que a movimenta é também a mesma que a afoga na descida do desfiladeiro. O desejo também pode ser comparado à cauda de um cometa, isto é, quando da a sua vastidão é sinal de que está se desintegrando ao passar próximo ao sol. Ou seja, o desejo não se sustenta por si, e quando “realizado” o é somente na condição de ter ascendido ao âmbito das palavras, e, portanto, da sua “não-realização” enquanto um vulcão emergido da escuridão do corpo.   Se as palavras são escoadouros, ainda que como substituto do desejo, então estas agem em relação a estes como frigideiras cujos ovos só são comidos depois de fritos. Os desejos, portanto, quando ascendidos à condição de palavras, não são mais do que “ovos fritos”, isto é, do ato de desejar até culminar com sua “realização” ter-se-á percorrido um longo caminho, e, tal como ovos na frigideira, resultam em perdas substanciais. Dito de o

O século XXI, suas leituras e contradições

Por Gilvaldo Quinzeiro   Fazer uma leitura do século XXI é se deparar com as suas arestas e contradições, logo, é adentrar a ambivalência humana, e, através desta nos darmos conta que em certo sentido, nunca ultrapassamos “os muros medievais”. Pois bem, é a respeito dos   limites, contradições e ambivalência deste século que vamos tratar. Para isso vamos tomar como ponto de partida dois fatos que por si sintetiza esta contradição, a saber, a ciência e a religião. Vejamos.   Ao mesmo tempo em que estamos tão perto de desvendar a “partícula de Deus” ou o bóson de Higgs , pesquisa que já rendeu   o Prêmio Nobel de Física ao cientista François Englert , naquele   que é considerado um dos   mais caros e complexos experimentos já montado pela ciência – o Grande Colisor de Hádrons (HLC) -, a humanidade, por outro lado, nunca esteve tão próxima de um conflito global e de larga escala, como o que se inicia na caçada aos membros do Estado Islâmico, isso sem falarmos em outros conf

A serpente e o homem. Quem aprende com quem?

                       Por Gilvaldo Quinzeiro   O homem nasceu no amanhecer do dia de hoje, e lá pelo   final da tarde, ainda engatinhando ou sem ter     nascido os dentes,   já acredita que é   o dono do mundo – que infância perversa! A serpente, por sua vez, há milhões de anos já se rastejava por aqui,     contudo,   nunca criou asas. Porém,   a sua velhice   é a prova inconteste   do quão lhe foi útil o aprendizado na infância! Pela face   desgastada do planeta Terra, podemos concluir que o homem nunca pensou em sua própria velhice, e agora, se é tarde demais   aprender com os homens,   com as serpentes desinquietas,     aprender   com a picada, fica para a próxima existência! Bom dia!            

As prisões nossa de cada dia

Por Gilvaldo Quinzeiro   De novo as rebeliões, fugas e decapitações de presos   n os presídios brasileiros   voltam a ser manchetes nos noticiários. O de Pedrinhas, então,   já virou pauta diária para os jornalistas de plantão. Além dos assassinatos já recorrentes, agora é o próprio Diretor da Casa de Detenção, do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, Claudio Barcelos o principal suspeito de facilitar a fuga de presos.   Contudo,   o problema não se limita ao Maranhão, no Paraná   só esta semana ocorreram   duas rebeliões,   inclusive com reféns. Nos demais presídios brasileiros, as condições   não são tão diferentes, de modo que, a qualquer momento poderá eclodir outras rebeliões. O cerne do problema é: superpopulação de   presos e para uma escassez de presídios. E a solução para isso, seria quase um Maranhão inteiro só de presídios a serem construídos! Enquanto isso,   nas ruas,   diante de tanta insegurança é o cidadão que vive preso por trás de grades e muros!   Já nos palan

“Com quantos paus se faz uma existência”?

Por Gilvaldo Quinzeiro A sombra. Poucos são os homens que se elevam a condição de árvore. Muitos até chegam a se transforma em folha, mas, a fome lhes faz crescer até o estágio de uma lagarta, e logo, tal condição por si só é devorada. Porém, é a condição de “sombra”   a transformação mais cômoda e frequente, pois, é da ordem daquilo que não se desce às raízes, não se espraia em galhos e muito menos se segura em si mesmo. Dai, ser esta condição, a de sombra,     o mais complexo dos desdobramentos da condição humana. Mas o que vem ser esta condição de sombra? Como costurar uma explicação para esta condição? Este é, portanto, o   desafio que me proponho a enfrentar ao longo deste texto. É possível, no entanto,   que até o final deste,   eu me consoma por inteiro, e nada do que foi dito no inicio tenha alguma sustentação. Mas prefiro   o rasgo por mim mesmo, a permanecer inteiro, sem mergulhar fundo no meu próprio útero. Pois bem, por estes dias que se sucedem, eu f

O fogo e o graveto. Na mão de quem está segura a de Deus?

Por   Gilvaldo Quinzeiro O “fogo e   o graveto”.   O arder do outro é sinal de que   o rio corre   distante, de modo que ,  as chamas   em que   ambos   se fundem, não podem se apagar.    Mas o vento produzido por este arder, há de lamber o que   para o   rio não significa sede. Fora isso, tudo mais é coincidência e coexistência   - até que o homem chega com o “sopro” – daqui pra frente a história é outra. Na mão de quem a de Deus está segura? O texto acima é uma pequena introdução a uma reflexão acerca do   que poderá vir a ser uma “nova guerra”   na região conhecida desde a antiguidade como Crescente Fértil. Estou falando da operação   que vai tentar destruir o Estado Islâmico.   Eis o texto. Uma “nova guerra” é anunciada, desta feita contra o grupo jihadista do Estado Islâmico. O anuncio foi feito ontem, sexta-feira, 12 de setembro,   pelo Presidente dos Estados Unidos,   Barack Obama. Um grupo de países deverá fazer parte deste esforço norte-americano. Possivelme

O espelho da alma

Por Gilvaldo Quinzeiro A música é o espelho da alma. Cantar, para além de se ouvir é um ato pelo qual também se ver. A cada música ouvida, uma face em nós se contempla. A música de hoje, assim como a de ontem, amanhã será lembrada como a mais bonita face que tínhamos. Na velhice, não há como não se tornar surdo para as canções com as quais se festeja o presente, porém, tal perda só nos será compensada, porque também nos tornamos cegos aos estilhaços fincados na face de agora. Ai de nós se o cosmo inteiro também não dançasse ouvindo a si mesmo! No final, quando o nosso canto aos outros incomodarem – silenciar-se é matar o corpo inteiro! Que a morte enfim, nos venha como pra cigarra! Ouça: Como Lá Cigarra

O ego consumidor. Tudo em nós é boca!

Por Gilvaldo Quinzeiro   O consumismo.   Como não se tornar dependente? Como a sociedade vencerá a guerra contra as drogas, se o hábito de consumir, inclusive o dispensável,   é dado como “seios” desde criança? Como interpretar o comportamento de centenas de pessoas,   de várias idades,   que passam mais de 18 dias a esperar numa fila o lançamento de um novo produto?    Pois bem, o tão esperado lançamento do iPhone 6 , entre outras coisas, deverá bater o recorde de pessoas a suportar dias e noites numa fila de espera. Mas esta noticia é repassada pela grande imprensa como algo digno de comemoração! Afinal se “sacrificar” para obter um novo produto a qualquer custo, vale a pena?   Ora, fazer destas imagens   o símbolo da “civilização atual” é fechar os olhos para as filas dos também famintos da África. A fome pelo consumismo é tão voraz e revoltante, quanto a fome que   mata milhões por falta de comida no mundo inteiro. Com uma diferença, o consumismo nos tornará   os “cupins d

"Independência ou morte". Eis a questão!

Por Gilvaldo Quinzeiro   Hoje é o 192º aniversário da Independência do Brasil, “o 7 de setembro”. Uma data histórica, sem dúvida. Porém, o conceito de “independência”, na prática, ainda nos falte ou não o conquistamos de fato. Culpa de quem? Dos governantes ou do próprio povo?   Para o Maranhão há exatos 192 anos, a independência era a pior de todas as coisas que poderia ter acontecido para a sua elite – e “o 7 de setembro”, tal como se é comemorado só passou a ser comemorado no ano seguinte. O Maranhão aderiu à Independência do Brasil, no dia 28 de julho de 1823. E Caxias, no dia 1º de agosto. Em outras palavras, o Maranhão que foi a região do Brasil que mais tardiamente foi ocupada pelos portugueses (em 1615),   com a Independência   também não foi diferente. E hoje, o Maranhão ainda   é “tardio” em quê? O que ainda é muito “cedo” para as nossas elites? Nestas eleições, “o novo” e o “velho” são mais uma vez confrontados.   E com este confronto, o que sempre nos foi tardio

A morte. Uma metáfora?

Por Gilvaldo Quinzeiro   Uma coisa   são as   inúmeras conquistas no campo da tecnologia e da ciência neste novo século. È inegável tanta   conquista! Entre estas   conquistas – a da longevidade - nunca se viveu tanto, inclusive com uma razoável qualidade de     vida, pelo menos é o que afirmam as autoridades. A vida enfim   está às “mil maravilhas”? Não é o que nos responde os dados de um relatório   divulgado ontem, quinta-feira,   pela Organização Mundial de Saúde(OMS)   sobre o número de suicídios em todo o mundo. Segundo este   relatório, a cada 40 segundos, uma pessoa comete o suicídio no mundo.   Ainda de acordo com este relatório, estima-se que   800 mil pessoas se suicidam a cada ano. Por que diabos nos matamos? Ao longo deste desse texto vamos nos afogar numa profunda reflexão a respeito da existência humana. Para isso vou recorrer a   outro texto já publicado por mim. E que hoje me servirá de   uma espécie de “barco inflável” com o qual tentaremos atravessar o oce

O parto

Por Gilvaldo Quinzeiro   Esta semana uma cena   pariu a dor de muitas famílias brasileiras. E como todo parto, o   choro é sinal de que a carne foi rompida.   Estou me referindo a cena protagonizada por um pai,   Ailton Marinho, 44 anos, que se rasga em pranto   ao ver seu filho preso acusado de roubo numa delegacia da Paraíba. Confesso que fiquei grávido de muitas reflexões! Pari-las agora não significa evitar todas as dores, porém, de outra forma eu não seria a mãe do que sinto!... Pois bem,   não vou perguntar aqui como se “faz um filho”,   e muito menos como evita-lo, mas como ser pai sem sentir a dor por outros partos? Cada vez mais,   eu me convenço de que os nossos avós foram hábeis educadores, muitos sem conseguir ler “cartilha” alguma! Sempre que falo desses assuntos vem-me à mente     figura de Seu Abel, um   pobre lavrador,   analfabeto, e pai de 11 filhos. Claro que na época de Seu Abel, o mundo era outro. E como era! Ora, mas se no mundo de hoje não estamos cons

O tempo das "novas cruzadas" - em que díabo nos transformamos?

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O tempo das “novas cruzadas” – em   que diabo nos transformamos? Por Gilvaldo Quinzeiro Yaken: jovem largou tudo, abraçou o fundamentalismo e se tornou membro do Estado Islâmico Uma peste com o nome de um rio – Ebola.   Não poderia ter outro nome mais apropriado para se batizar uma peste?   Ou a seca de nomes já   nos afunda na própria existência? Qual a sede de um rio, quando a fonte que inspira os homens há muito tempo já se secou? Que cruzada cruza este nosso tempo? Bem, o dito acima é para introduzir uma breve leitura das questões imanente ao nosso tempo. Entre estas questões, a que me faz pensar que   vivemos uma “nova cruzada”, e com esta a mais bizarra das conclusões, a saber,   a de que   a “sede de viver de alguma forma se esgotou”.   Vou tomar como exemplo para justificar este meu pensamento, dois casos recentes. Primeiro ,   o caso que aconteceu em Teresina, onde um   homem que acabara de ser enterrado, teve seu corpo desenterrado pelos seus “de