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Mostrando postagens de março, 2021

Pérolas às onças

Por Gilvaldo Quinzeiro Estranho o tempo em que os peixes antes livres em águas claras e fundas, hoje são porcos em poças escuras e rasas a mendigarem   doses cavalares   de rações – razões dos nossos sujos   interesses que   transformam   tudo em vasilha limpas – onde se come cada vez mais pouco do que verdadeiramente nos   sustenta! Estranho o tempo de muitas fendas e poucos céus   – razão pela qual muitos profetas são   prisioneiros do que anunciam –   tsunami de suas   vaidades! Estranho o tempo em que muitos   se afogam na mesma água , que não enche um copo , mas se arrogam de detentores de poderes de abrirem caminhos por entre os mares! Estranho o tempo onde o bem   muda de endereço tão facilmente para se tornar inquilino dos dedos sujos , que apontam o mal tão bem e para todos os lados! Estranho o tempo onde a pressa dita a prece para se obter   apressadas bênçãos, que se diluem facilmente nas   pesadas mãos de quem não teve tempo para identifica-las! Estranho o   t

Os engenhos de si mesmo e o lado de fora

Por Gilvaldo Quinzeiro  O olhar para dentro de si é raiz! Não há, neste momento de tempestade, uma mão sequer do lado de fora! A força, a segurança e o amparo estão dentro de nós! O olhar para dentro de si é conexão com o universo!  Erga-te por ti mesmo! Faça deste momento suas lições! Não se torne mais estranho e nem inimigo de si mesmo! As condições atuais exigem sobretudo, o silêncio interior e a escuta profunda acerca do que somos!  É verdade, entretanto, que há muito tempo deixamos para trás a humanidade. Por isso somos árvores sem raízes a construir desesperadamente edifícios e templos, que não se sustentam por si mesmos, haja vista serem estes o lado de fora!  O lado de fora é a superficial retórica acerca do que as palavras já não mais alcançam. O lado de fora é o discurso falso e cheio de ódio. O lado de fora é a justificativa sem fundamento e a culpa como escapatória. Eis do que estamos farto!  Volte para dentro de si! Faça-te companhia!

A pandemia e o retorno à caverna? Uma introdução a psicanálise cabocla

Por Gilvaldo Quinzeiro   Nos meus primeiros escritos, quando eu era bem jovem (ainda não publicados, e talvez perdidos em algum lugar da minha bagunça); escritos estes que eu intitulei de o ‘retorno à caverna’, e, olhando para os acontecimentos de hoje, em tempo de pandemia, mas, particularmente no que diz respeito ao comportamento assombroso das pessoas, penso que em certo sentido, tais escritos são atuais. O texto abaixo é um esforço para colocar lenha entre as trempes no interior das nossas escuras cavernas!   As emoções são arcaicas armas disparadas pelo corpo antes mesmo do uso das primeiras ferramentas; do uso das palavras e da razão na luta pela sobrevivência, ou seja, em um contexto em que a comida poderia significar também matar ou morrer pelos mesmos motivos, bastando para isso só se colocar um pé fora da caverna.   Em outras palavras, no nosso passado remoto, uma simples busca por água poderia resultar em que ficássemos enterrados na lama na disputa com outros an

A velhice e a morte: mãos e pés no mesmo caminho?

   Por Gilvaldo Quinzeiro   É difícil lançar um olhar nas bordas da nossa realidade, sem nos sentirmos meros fiapos de uma costura mal sucedida, assim como um remendo em tecido puído! Como diriam os mais velhos: “em tecidos puídos não se prega remendo”. Ocorre, entretanto, que este entendimento nos dias de hoje com seus tecidos líquidos, não cola: há um desabamento do discernimento nas novas e nas velhas gerações para, as quais, tudo é músculos. Em tempo de ufanismo cinzento, é bom que se diga, república dos músculos! Bem, a realidade é parente das coisas mais brutais. Algumas destas coisas só nos batem à porta na velhice: momento em que nem pelados estamos livres do peso dos nossos olhos!   Sim. A velhice nos arranca tudo – ao mesmo tempo em que nos acolhe?   A velhice, meu caro, nos coloca vizinhos de tantas e tantas coisas indesejáveis, entre esta aquela que não desejo nem pra mim: a morte! Eu fico a imaginar como os idosos em tempo pandemia estão olhando para dentro de