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Mostrando postagens de abril, 2018

Cobrem das cobras. Corram dos homens?

Por Gilvaldo Quinzeiro Neste tempo ferido pela ausência daquilo que é duradouro, do que é afinal feito a nossa pele que espinha: das palavras que ferem até nos transformar em pedregulhos ou das feridas já escamosas que transformamos em palavras? Sim, as palavras são as substituas das pedras, quando estas eram arremessadas como armas únicas para afugentar as feras; as feras que poderiam ser o outro, logo, aquelas, as palavras, são também pontudas, e ferem não só a pele, mas adentram também a alma! Ora, o dito acima nos leva à condição de meros seres rastejantes, tais como as serpentes, porém, com uma diferença fundamental, qual seja, o nosso ‘veneno’ não nos impede que venhamos sentir o desejo de estarmos plenamente em outra pele. Em outra pele também ferida e marcada pela ausência daquilo que é essencial e duradouro! O que é então hoje duradouro, senão a vontade de abocanhar a própria pele? Nesta relação especular entre o homem e a serpente, uma certeza, porém

Aos esquecidos de si mesmos: ouçam as pedras!

Por Gilvaldo Quinzeiro Que tempo é esse? Se quiser saber da resposta ouça as pedras. Mas como fazer isso se já não temos mais ouvidos nem para ouvir direito as nossas preces, estas hoje, mais do que ontem mais apressadas! Valei-me meu Deus! Vivemos o paradoxo entre a ‘imediatidade’ das coisas, das coisas feitas com a finalidade de serem descartáveis, aos passos que lutamos duro para que ao menos a nossa face de amanhã nunca chegue, porque é com a de hoje que abrimos todas as portas. Incluindo aquela porta que acreditamos ser a do nosso destino. Ora, as coisas descartáveis, ver aí tudo a nossa volta, são feitas de plástico, logo, não é o seu simples descarte que irá dar a cabo destas. Muito pelo contrário, estas durarão por um belo tempo - mas, quanto as nossas faces, estas sim, pela força do tempo são de fato passageiras. Pense bem, o dito aqui por mais que seja sugestivo, não é no sentido de, tornarmos as nossas faces de plásticos, conquanto, em certo sentido

O osso duro de roer

Por Gilvaldo Quinzeiro Se ao cão tivesse sido dado a faculdade de pensar, tal como o homem que pensa que pensa, escolheria aquele, viver na pele de um homem? E quanto aos homens, os que se dizem possuir a faculdade de pensar, e da qual se orgulham tanto, como explicar a ‘escolha’ daqueles homens cuja vida é tal e qual a de um cão? Bem, ao menos numa coisa o ato de pensar, atributo dos homens, torna o homem radicalmente diferente dos cães: a ‘invenção’ da morte seja como punição seja como liberdade às suas prisões. Sim. A morte ao menos no que tange ao seu sentido simbólico, é invenção dos homens. Neste aspecto, os cães seriam teoricamente mais felizes do que os homens, posto que a sua morte é algo ditado pela natureza. Ora, o dito aqui significa dizer que só o homem morre antecipadamente. Estranho isso. Mas, a questão levantada aqui é filosoficamente importante! Os cães vivem estoicamente. Já os homens, bem, estes apenas penam! Pois bem, há ‘cálculos matem

Para natureza dos rios e dos sonhos, não há prisões!

Por Gilvaldo Quinzeiro O rio, que corre não é de todo aquoso naquilo que carrega sobre suas águas. A natureza de um rio, portanto, não está naquilo que agrada aos nossos olhos, e muito menos nos ‘piqueniques’ que fazemos às suas margens. O rio sempre nos escapará. É aqui que nos afogamos.... Ora, a apressada, precipitada, politizada e vingativa prisão de Lula é este enganoso rio no qual muitos acreditam ter pleno domínio. Enganam-se, pois, aqueles que pensarem ter ‘colocado a mão’ neste caudaloso rio! O ato da prisão, dado à sua presa, fato este que era para ter pegado o Lula de ‘calças curtas’, acabou, não obstante a imediatidade do tempo, unindo e fortalecendo vários tecidos, cores, vozes e bandeiras à uma mesma margem desse rio. Lula foi preso como muitos queriam! E aqueles foguetes há muito tempo guardados, ontem enfim, saíram dos armários. Muitos, enfim, comeram suas pipocas com seus garrafões de refrigerantes assistindo o espetáculo midiático, com textos já

As pedras, o sujeito e as faltas: todos ‘trempes’ do mesmo engenho

Por Gilvaldo Quinzeiro Neste tempo de tantas ‘faltas’, perguntar do que estamos ‘cheios’ é começar a redesenhar a face, que nos abunda, mas que paradoxalmente não se torna visível ao espelho.     Ora, o ‘engenho’ no qual o seu produto final é o sujeito, isto é, cada um de nós, há muito tempo se enferrujou, e ameaça a parar suas engrenagens. Como assim? A resposta à pergunta acima não é simples. Para tanto precisaria ser tão engenhosa quanto. A velha arte de fazer monte de pedras, seja para demarcar território, seja por motivo de adoração ao sagrado. Por trás desse gesto está a absurda necessidade de redesenhar a ‘face faltante’ – aquela que escapa de nós mesmos! Tal arte, se de arte podemos assim chamar, seja lá o que for, é o ‘umbigo’ de todos os espelhos...Ora, o ato de ver nos cria. O ato de ver é como os dentes para a boca, ou seja, é o que nos abocanha, enquanto experiencia mastigatória. Sim, somos o resultado daquilo que poderia ser também o jant