Postagens

Mostrando postagens de maio, 2012

O estômago do mundo

Gilvaldo Quinzeiro O primeiro contato da criança com a realidade é pela boca. Ou seja, em certo sentido, “a noção do mundo lá fora”, está intimamente ligado à experiência com aquilo que um dia levamos à boca, lá nos primórdios da infância. Daí a importância da oralidade, enquanto fase do desenvolvimento psicossexual, como bem assinalava Freud. Ora, se assim for verdade, então o mundo de hoje ou é o resultado do nosso vômito ou do nosso empanzinamento, já que nos tornamos apenas em bocas. E que bocas!   Assim sendo, nos tornamos em seres como bem diria o velho caboclo, que não têm “nem lá dentro e nem lá fora”. Eis a explicação para “os nossos vazios”? Parece mesmo “canalhice” falar destas coisas, em tempo que a grande maioria dos homens se   entala com pedaços de outras realidades – aquelas que   só são erguidas obcecadamente com aquilo que para Freud seria a substituição das nossas fezes – o dinheiro. Disso o mundo inteiro está fedendo e morrendo! Dito de outra for

A arte de não dizer nada sobre a política

Gilvaldo Quinzeiro Nestes dias em que os anéis são mais permanentes que os dedos, as faces se desbotam todas as vezes que os fatos exigem “atitudes”. Na política então, quem continua tendo alma ou quem não possui alma que se vende? Ora, se a dor de perder todos os dedos   é menor que a de ter todos os anéis sobrando, então o mais eloquente dos discursos politico só é audível para “as massas que perderam a cabeça”. Não será este o quadro da política atual? A política cada vez mais desencanta quem mais dela é dependente – o povo, e por outro lado, cada vez mais atrai os que nela   só são vampiros! Isso pesquisa nenhuma revela. Aliás, “as pesquisas” só revelam as surpresas de quem nunca foi consultado! Da Vinci seria o suficientemente engenhoso para “despintar” o sorriso daqueles que, por conta da sua política, falta sangue, médico e leito nos hospitais? Ora, olhe que lá também falta a orelha de Van Gogh! Pois bem, afinal de quem é sangue que corre nas veias dos nossos

O grito

Gilvaldo Quinzeiro As feridas da infância serão os pés descalços na vida adulta, isto é, quaisquer que sejam os passos, o sangramento é inevitável. Entretanto, o trágico não se resume ao caminhar, mas, o   em   reerguer nossos algozes a cada olhar!... Só a análise nos coloca em posição de, ao menos o nosso grito de dor ser ouvido. Parece pouco, porém, para que tem a voz silenciada, faz toda a diferença!... Grite! Não há fantasma que resista o despertar do dia seguinte...

Abra outras janelas para o pássaro de si

Gilvaldo Quinzeiro Da vida em sua evolução, o homem   é   a única “larva” a não só tardar a atingir o estado adulto, como se tornar “ adulto” não significa necessariamente ter se desvencilhado da sua condição de “larva”, pois, é esta que de alguma forma continuará   servindo   aquele   como “alimento”   básico. Ora, ser-nos-ia mais cômodo ser apenas como uma borboleta, todavia, o voo naquilo que há de belo e desafiador, certamente nos passaria completamente despercebido. Dito de outra forma é possível que a evolução nos reserve mais surpresas. Contudo, a borboleta que perdeu a sua condição de lagarta, há como ainda sofrer mutações? Que não nos tornemos velhos como os escorpiões!      

E a realidade o que é diga lá meu irmão

Gilvaldo Quinzeiro Tal como as   linhas de Nazca, a realidade pode estar tão lá fora, quanto “o mito da caverna de Platão”. Se assim for verdade, então o Outro sem o qual   a nossa existência não tem significado algum, há de se postar pra nós   tal como “as estatuas da ilha de Páscoa"? Eis o motivo pelo qual erigimos os deuses? É possível que sim. Do contrário, a nossa existência de tão volátil que é não nos permitiria nos reconhecer no outro que também se vaporiza. Mas, o duro mesmo é falar que a realidade tal como a concebemos, pode não passar de uma mera ilusão. Ilusão que, para “o nosso controle”, vale todo um esforço gigantesco para a erguermos de pedras. Por isso,   de tempo em tempo, as pedras nos falam do seu silêncio? Bem, a questão dos dias atuais não silencia em nada o discurso de Platão. Melhor assim, pois, o que agora nos assombra pode ser apenas   a realidade dentro de nós desconhecida. Ufa!

A paz é só para quem pode?

Gilvaldo Quinzeiro O discurso em favor da paz é fácil e compreensivo, sobretudo, quando quem o pronuncia também tem “o poder” para convencer a todos dos interesses que levam o mundo todo a uma guerra. Nisso ai não há nenhum mérito, pois, o silêncio já é mais do que uma resposta esperada!... Todavia, o verdadeiro pacifista é aquele que, conquanto, não tenha “o poder” de se fazer ouvido, ainda assim, a paz continua sendo o maior de todos os seus argumentos!

Os ais e as asas das nossas vidas

Gilvaldo Quinzeiro O diacho da vida humana é ter que se arrastar ao longo de toda a existência com o bucho pregado no chão, e quando algum voo alçar não contar com as costelas suficientemente duras para, quando cansado de nada encontrar,   espatifar-se... Ai de nós apenas com as asas de Ícaro! Que pena!

...E assim Adão e as outras Evas?

Gilvaldo Quinzeiro As coisas rasgam-se naquilo que antes parecíamos compreendê-las. A Europa que erigiu “a civilização do mundo”, o mesmo mundo por ela também “sifilizada”, agora se ver de frente a face que, na dos   outros era considerada bárbara? Tempos gordos aqueles, e “pensamentos” impostos aos de barriga vazia! Hoje lá e cá quem se manterá de pé? Quando da chegada dos “descobridores”, alguns dos povos de cá não receberam isso com surpresa, pelo contrário, tinham certeza que visitantes viriam. Hoje, os europeus estão na mais absoluta incerteza. Do “fim” os de cá também já não sabiam? Ora, esta é a hora de que filosofia? Bastam os bastões ou só os bestas se batem? É interessante, penso, termos ouvidos   para outras coisas, inclusive para aquelas que o tempo todo nos fizemos de surdos. No fundo, no fundo estamos de volta aos tempos de Adão, porém, com duas diferenças – abundam as Evas, inclusive aquelas com as nossas costelas inteiras, e escasseiam as maçãs. Q

Indo pra cama com a violência: uma reflexão freudiana sobre a forma atual do gozo?

Gilvaldo Quinzeiro A violência nossa de cada dia não só expõe o “lixo colocado debaixo do tapete”, isto é, a forma como a civilização lida com as forças mais obscuras da natureza humana, enrijecendo assim,     uma das mais antigas face humana,   a   hipocrisia,   como também       o “gozo” com o qual ela ( a violência)   é praticada, sobretudo pelos jovens   nos arroubos dos tempos incipientes   da adolescência, diga-se   de passagem que esta   nunca foi tão duradoura, como nos tempos atuais,   enquanto isso, a infância simplesmente desapareceu. Ora, isso não é só tangível como é o “pântano” no qual estamos literalmente atolados! Dito de outra forma, a violência tal como ela vem sendo praticada me faz intuir que estamos diante de um fenômeno único, não sei se o mesmo passaria despercebido do olhar apurado   Freud, a saber, do “deslocamento das genitálias”. A respeito disso, em outro texto eu   indagava se os jovens de hoje com “as mãos e o cérebro ocupado em tantas paraferná

O tiro da existência, e o sujeito em seus pedaços...

Gilvaldo Quinzeiro Entre “a vida e a morte”, eis o sujeito rasgado pela dúvida. Deveras, a vida é o que nos escapa pelas mãos, enquanto   ralamos para nos erigir   das incertezas; a morte, esta sim é certa, talvez por isso a ela nos antecipamos? “O rasgo do sujeito”. Ora, só os deuses enfrentam as coisas em pé. Para nós, mortais, as coisas só ganham sentido com o esmagamento das mãos. O que nos diria Arquimedes neste tempo em que nada dura? Dura é a realidade na qual só os “furos” se sustentam, pois é através destes que “vazamos” a nossa existência. Aliás, a existência como experenciá-la se   “o consigo mesmo” do sujeito encontra-se tal e qual uma peneira? “Triturado”, eis a condição pela qual o sujeito se insere na realidade. Ora, de que outra forma este seria sobrevivente?

A vida e seus movimentos, quando a reflexão é apenas um deles.

Gilvaldo Quinzeiro Pedras duras e caminhos espinhosos. A realidade em nada se compara a uma “falsa sensação de bem-estar como a que estamos quando com o fone no ouvido”.   Ora, que ilusão pensar que toda a realidade, inclusive a das nossas ruas com suas balas perdidas, mas sempre certeiras, se resume a capacidade de um chip ou a leveza de um table t !   Pois bem, meus amigos, a tecnologia perigosamente   nos acomoda e nos engorda, enquanto a vida na sua mais pura caminhada é a mesma que exigiu dos homens há milhares de anos muitos sacrifícios, atenção e enfrentamento. O mesmo sacrifício, atenção e enfretamento que o pianista João Carlos Martins vem fazendo diariamente para recuperar os movimentos das mãos. As mesmas mãos que lhe fizeram ser um dos maiores pianistas do mundo. Aliás, que belo exemplo de superação! Hoje, num programa de televisão vi o sacrifício não só de João Carlos Martins, como também de outras pessoas entre crianças, jovens e adultos   que perderam aq

A loucura e suas verdades

Gilvaldo Quinzeiro A loucura é a única “instituição” humana que não nos engana, porém somos todos surdos às suas verdades. “A normalidade”, não é que nos atraia tanto, quanto a loucura, mas é nela que estamos todos afundados, e como tal são delas os nossos ouvidos. E assim sendo, é dos loucos que esperamos a corda? Ou acordar já nos é mais possível?

A violência, a política e a metáfora: quando se vão todos os dedos.

Gilvaldo Quinzeiro A violência é um exemplo mais eloquente da falta de metáforas. Isto é, toda a situação ambiental é representada por apenas um dos quatro elementos: o fogo. Ora, o fogo é uma das experiências cruelmente crua – a sua abstração só vem depois dos “dedos queimados”. A falta de metáfora na politica significa a eloquencia da carne. Alias o poder numa visão anarquista não é outra coisa senão a violência encarnada. Em outras palavras é aqui onde “os anéis valem mais do que os próprios dedos”. Portanto, sem a metáfora, a política se torna o mais truculento de todos os jogos, onde “o mais fundo” dos jogadores, o dono da bola, não é só quem sempre joga no ataque como também aquele que   nunca perde uma partida. No futebol as jogadas são as próprias metáforas. Mas, há momentos em que a violência também toma conta do jogo. Na política todo jogo é no ataque, e as regras são as que evitam a derrota. Coincidência ou não foram os gregos que inventaram a política

Estas coisas para as quais não se têm palavras

Gilvaldo Quinzeiro Quem era eu nas imagens dos muitos espelhos que se quebraram? Como me fincar no espelho de agora, quando os de antes ainda me têm por inteiro? Interessante esta coisa da imagem!... Como não ser quebradiço? A travessia do espelho, não é outra coisa senão rasgar o próprio orgulho, e se remendar de palavras... Quê palavras? Ora, no lugar de quaisquer feridas narcísicas, se não forem suturadas com palavras, então, o quê é  aquilo que se ver no espelho?

O homem e o sabugo, a cada dia mais semelhantes?

Gilvaldo Quinzeiro Entre um homem e um sabugo as diferenças encurtaram? Provavelmente sim, e o que reforçaria esta tese é fato de que tal como um sabugo, o homem espraiado naquilo que não é espelho se “debulha” da sua unicidade. Em outras palavras, o mundo em sua “globalização” arranca do homem a sua existência, e o mergulha naquilo que a rigor só existe enquanto meras expectativas.