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Mostrando postagens de setembro, 2010

O rastejamento do corpo

Gilvaldo Quinzeiro O corpo é uma “coisa” que se contorce a procura de uma “imagem” com a qual se identificará. Um corpo sem uma “imagem” com a qual se identifica e se agarra, é como uma escultura barroca sem a “fé” que lhe dá “tripa e coração”. Mas, um corpo quando agarrado a uma “imagem”, pode também se transformar na “minhoca” que se afunda na escuridão dos subterrâneos. Trata-se pois, do corpo cuja fome de “imagem” lhe fez ser almoço de “escorpiões”, isto é, esmagado pela “imagem” que do corpo escapa para ao corpo retornar na condição de seus fantasmas. Em outras palavras, por traz do sonho sonhado, do sintoma que nos agoniza, do corpo que cai pro lado, pode estar o desejo por nós ainda não realizado; este é o desejo de uma parte de nós aliada ao desejo dos outros. Os outros que também somos, nos ocupam os espaços vazios; vazios que em nós tomam forma diversas, tal como a água nos cálices que se transforma em vinho.

A roda grande passando pela pequena

Gilvaldo Quinzeiro No imaginário caboclo, desde a fundação de Canudos no sertão da Bahia (1893-1897), onde a seca e a fome fizeram da “fé” a enxada que escavava a solidariedade de um povo sem chão, o mito “da roda grande passando por dentro da pequena” foi sem dúvida nenhuma uma das mais engenhosas invenções da saga de Canudos. A idéia de que uma “ roda grande passará por dentro de uma pequena,” é simplesmente assustadora e instigadora de uma reflexão. Seria esta passagem correspondente ao fim do mundo? Que roda grande é essa? Quem viverá para presenciar tal profecia? O fato é que ainda hoje este mito sobrevive no imaginário nordestino, sobretudo no meio rural provocando apreensão e “matuteza”. Canudos ainda resistem? Pois bem, às vésperas das eleições, o cenário montado, onde cabos eleitorais empunhando bandeiras e distribuindo “santinhos” dos candidatos, chamando atenção do povo - é de uma natureza tal que inspiraria um cordelista a escrever versos numa visão apocalípti

Palhaço, quem não é?

Gilvaldo Quinzeiro O que se ver no Tiririca é a face oculta daqueles que sempre “armaram o circo” para fazer do povo palhaço. Ou seja, os tiriricas de verdade não querem se ver na face sem “máscara” do palhaço Tiririca! Qual é a graça, palhaços!

As coisas na parede!

Gilvaldo Quinzeiro Os cavaleiros, as armaduras, as lanças, os castelos e a fé, em nome da qual se acendem as fogueiras em cujas labaredas ardem os corpos que não se curvaram ante os inquisidores e de sua fome por sangue. Os alquimistas, eis do que precisamos! O nosso tempo precisa de uma dobra, de um amarradio ou, mais precisamente, de um cambito em substituição as palavras que já não mais representam “as coisas” que, como morcegos estão dependuras nas paredes!... Psiu!

Um voto pra espinhar!

Gilvaldo Quinzeiro O meu voto é um “Dom Quixote” cuja lança aponta pra baixo das pesquisas, sem Rose, Dino ou Lago. Piso o chão sem as armaduras que fazem dos meus adversários fortes e escuros num mundo medieval. Meu voto é apenas um espinho de tucum!... Amém!

O complexo de ser filho de Deus

Gilvaldo Quinzeiro O espelho que reflete a nossa imagem, a nossa imagem que é a “semelhança de Deus”, também é o mesmo espelho que nos faz ver em nossa subjetividade, o quanto Deus não é verdadeiramente a nossa imagem. Deus criou o céu e a terra, sem contudo copular e nem se deixar excitar, mas ao empregar a Palavra, gestou em nós seus filhos, o desejo de não só tê-lo mais próximo, como também o direito de reivindicar a herança que nos foi prometida!...Mas como Deus não tem “sexo algum”, herdamos daí o “complexo de sermos filhos de Deus” com uma anomalia entre as pernas, que tende invadir todo o corpo e a própria alma, transformando-nos em seres que “poderão vir a ser ou não, digno do amor do pai”! De sorte que numa paternidade duvidosa como esta, há entre os “irmãos”, uma disputa fanática e suicida pelos primeiros lugares na “árvore genealógica.” E neste “universo das palavras”, quando estas se tornam inócuas tal como nos dias atuais , se constroem com o poder das pedra

A metáfora do espelho e o voto, uma reflexão quase psicanalítica

Gilvaldo Quinzeiro Freud explicaria o por que da categoria de professor não votar em professor, tal como ocorreu nas eleições municipais(em Caxias) de 2008, não obstante 21 candidatos ao legislativo serem professores? Ser-nos-á impossível responder tal questionamento, porém, podemos arriscar uma explicação à luz da Psicanálise – ciência criada pelo grande mestre – sem descartarmos as outras explicações de matrizes diversas, inclusive a política. Entretanto, para isso, vamos recorrer a “metáfora do espelho”, isto é, um professor é reflexo indubitável da imagem de um outro professor. E como a “imagem” do professor já é por si mesmo depreciativa, o que se ver no espelho nada mais é do que o nosso reflexo, ou seja, a imagem do próprio “fracasso”. Todavia, como resposta imediata a esta imagem especular (do fracasso) e da baixa auto-estima, surge o “narcisismo” representado em atitudes como: “ele (o outro professor), é pior do que eu”; “não vale apenas, pois, acreditar nele”... E

Pois é...

Gilvaldo Quinzeiro Pois é, sai ano e entra ano, promessas vêm, promessas vão. Eleições quase todo ano, e o pobre do caboclo sentado sobre um tamborete: “este ano não, mais no próximo se tiver um bom inverno as coisas irão melhorar!”. Melhora mesmo só na “televisão do patrão” que faz o caboclo enxergar bonitas as feias rugas das velhas faces sem ética, que, depois de bem maquiadas fazem ressuscitar do imaginário popular a saga do “sapo encantado”. E como todo “sapo encantado” no final da história vira príncipe – então as mais absolutas das monarquias são instaladas. E com estas, as forcas e as guilhotinas! Pois é, assim, assado ou cozido, no prato ou no pires. Antes princesa, hoje uma gata borralheira! Moral desta história: sapo é sapo, mesmo trepado. Mas, no final é o pobre do caboclo que conta todas estas histórias! .

A sua casa!

Gilvaldo Quinzeiro 1-O país é como se fosse a nossa casa. Levamos anos lutando, economizando aqui e acolá para construí-la, embora saibamos que a construção de fato nunca termina. 2 – As eleições é período no qual entregamos as chaves da nossa casa para outras pessoas cuidarem. 3 – Os candidatos são os “mascarados” aos quais temos a prerrogativa de escolher a quem entregar a chave. 4 – A chave corresponde o voto. Mas como entregar a nossa casa a pessoas que não conhecemos? 5 – Daí a seriedade de uma eleição. Para entregarmos a chave da nossa casa para um estranho, no mínimo temos que procurar saber se esta pessoa é zelosa; se é honesta; de onde vem; por quanto tempo ficará na casa etc. 6 – O partido político é família na qual foi criado o candidato. Ou seja, tal como a família, o partido político a qual o candidato faz parte poderá nos indicar a idéias; as propostas e o grupo social a qual o mesmo pertence. 7 – Estas informações é de capital importância, é através del

Eleições na reta final: na ponta, o povo?

Gilvaldo Quinzeiro As estatísticas sempre apontaram o Estado do Maranhão entre os piores índices, seja na educação, na saúde que, diga-se de passagem são as duas áreas estratégicas, isso para não falar em segurança, geração de emprego entre outras. Alias, em se tratando de empreendimentos que geram empregos, só para o “Sul do Maranhão”, o outro, o dos maranhenses pobres, do leste por exemplo, nada!... Pois bem, a pouco dias das eleições de outubro, as eleições parecem se concentrar só para os cargos majoritários, presidente e governador, e se esquece uma outra tão importante quanto a primeira, a do legislativo, isto é, dos deputados estaduais, federais e dos senadores. São estes que farão e aprovarão as leis. Leis fundamentais para regulamentar a vida de um país. Mas, o que se ver? Quais as propostas dos candidatos? Quem são e o que pretendem? As eleições também não é momento para se debater os problemas? Como resolver o problema da saúde maranhense que, de tão precária,

Trincheiras

. Gilvaldo Quinzeiro Um prato cuspido, uma meia rasgada, uma vela acesa sobre um candelabro. Atravessar as paredes na ponta de uma flecha. Ser soldado de si, quando não há mais do que se defender... Ouvir os gritos desesperados, não os que se ouvem lá fora nas noites escuras, mas os teus próprios, sol a pino!... Escavar saídas com as mãos feridas. Use também suas imbiras de tucum! Desate os nós, não espere por mim!...

Amo-me!

Gilvaldo Quinzeiro Por mais que nos amemos, eu nunca serei tu, e tu nunca serás eu. Não basta pois, apenas amar, é preciso também suportar o outro! Dito com outras palavras, o outro que eu amo, será sempre o outro, ainda que eu chore por ele, todavia, só este sentirá por si a própria dor! Mas, se eu não me amar, por mais que aquele “morra de amor por mim”, por qual medida vou mensurar este amor, se a mim mesmo eu me afundo sem ter amor por mim? Então, digo a mim com os olhos em lágrimas, “esta pessoa “ideal” que eu busco nos outros, sou eu mesmo”! Portanto, amo-me para enfim, sentir que o amor do outro por mim seja merecedor do meu, na quantidade e qualidade do meu amor próprio!

O ego, o nosso álbum de figurinhas?

Gilvaldo Quinzeiro O ego é uma espécie de “colagem de imagens”, tal como um álbum de figurinhas. Cada “imagem” é colada por sentimento – amor ou ódio. De sorte que ao abrirmos a página do álbum, a figurinha ganha vida, isto é, ganha o que de nós a esta acrescentamos, e conforme o sentimento com que estamos no momento, se de amor ou ódio, as imagens tomam formas correspondentes ao que sentimos – antropomorfiza-se. Eis aqui o “olimpo” grego? Em outras palavras, somos feitos de recortes, e vivemos como “figurinhas” coladas nas paginas de um álbum, que, ao invés de abrir, este se fecha, quando nos “figuramos” nas figurinhas. O tempo exato da “existência da figurinha”, é o tempo que levamos para digerir um sentimento, ou seja, de uma descarga de uma tensão. Dito isso, estamos falando do poder “criativo” da projeção, sem a qual a realidade não teria nada de nós, implicando na não-realidade. Tal como uma rocha esculpida com a nossa “face”, a realidade sem a nossa voz que se p

Sol a pino

Gilvaldo Quinzeiro Sigo uma caravana de tropeiros, montado no meio de uma cangalha sobre um jumento, numa estrada empoeirada, destas que abundam pelo sertão. São dezenas de homens bravos, alguns de barbas brancas, facão amarrado na cintura, uma taca na mão, a tocar suas cargas de farinha sobre lombos de mulas, cavalos e jumentos, sertão adentro!... São doze horas e seis minutos. Sol a pino, ramas de matos secos e espinhos nos atingem as canelas. De vez enquanto, alguém grita: “marcha jumento”! Outros, “desencosta”! E assim seguimos deixando pra trás uma nuvem de poeira e pum de mulas encangalhadas e cansadas do peso de suas cargas. Daqui, onde estamos, no “carrasco da Baixa Grande” até a beira do rio Parnaíba são umas oito léguas de "beiço", como diriam os caboclos! Chegaremos no posto de Novo Nilo por volta do raiar do dia!... Viro-me pro lado esquerdo do jacá e pego uma cabaça com água e mato a sede!... Aceita um gole? Boa tarde!

Do outro lado

Gilvaldo Quinzeiro Lá onde a outra parte de mim passeia, sou fugitivo; cá onde estou entrincheirado, sou guerreiro ferido!...

Hoje

Gilvaldo Quinzeiro As flores que na manhã de hoje desabrocharam, logo mais ao meio dia estarão murchas. Ou seja, o tempo de uma vida, é o que se incide para além da sua maturação. Ir ao fundo do quintal, sem se dá conta de que voltou de lá com o orvalho das plantas, significa entre outras coisas, “tempo perdido”, deste que nos escapa enquanto se arregaça a calça... As flores seguem seu caminho, nós damos nó no pescoço, enquanto o vento lá fora atrai as borboletas aos jardins!...

Um trisco

Gilvaldo Quinzeiro O sujeito quando adulto é um “delta”, mas sua foz é uma “criança”. Ou seja, o “ser” é um trisco de nada, tudo enfim, é o que nos escapa!...

A falta de pais, filhos sem cerca

Gilvaldo Quinzeiro Há mães demais também sendo “pais”. Há pais demais também sendo “mães”. Porém, o papel dos pais, enquanto o introdutor no seio da família do “princípio da realidade”, é cada vez menor. Se isto for verdadeiro, então o “matriarcado” sobrepôs ao “patriarcado”, ou seja, podemos estar vivendo sobre o signo do “principio do prazer” no qual os filhos não estão sendo “educados” no sentido de que o termo educação por si só nos sugere, mas ao contrário, estes estão sendo “erotizados”. A consequencia disso porém, além de caracterizar como um retorno a um “ciclo”(matriarcado) cujos efeitos a médio e a longo prazo podem ser naturalmente devastadores, tanto quanto imensuráveis. Podemos notar que a “intolerância”, isto é, a incapacidade de suportar as perdas é um dos traços mais característico da geração atual cuja consequencia vai desde a dificuldade da aprendizagem até a deliquência juvenil materializado, por exemplo, nos crimes hediondos! Em outras palavras, se a est

Pedra no pescoço

Gilvaldo Quinzeiro O sentimento de culpa é uma enorme pedra que nos é colocado no pescoço desde a tenra infância, sucedida de um convite excitado para ir ao mar. De sorte que, em se chegando ao mar, diante da sua força e beleza, o que menos se perceberá é a pedra, resultando num inevitável afogamento naquilo que paradoxalmente nos atrai! Em outras palavras, somos “culpados” posto que já somos atraídos ao ato merecedor da pena(?). E quanto ao mar, este não perdoa. Mas, e quanto aos que criaram a culpa? Estes no mínimo edificaram a civilização pelo “prazer” da punição!

O mundo todo em nossas mãos?

Gilvaldo Quinzeiro È um erro pensarmos que o “mundo está sob nossas mãos”, tal como o de um celular ou o de um computador. Ainda que falemos excitadamente sobre a “globalização”, e mais especificamente da capacidade tecnológica para tornar o mundo global, este não passa, parafraseando Heráclito , de “um rio no qual não nos banhamos duas vezes”! Aliás, se em relação a um rio apenas, ainda que banhando nele, da próxima vez que a este retornamos, mesmo que este retorno custou uma fração de segundo para pegar a toalha que ficou às margens, o rio já se foi, então do que dizer do mundo na sua diversidade? Recentemente, o Presidente Lula se deu conta de que mesmo um “acordo” que até então era impensável - estou me referindo a questão nuclear iraniana - mesmo tendo sido obtido, ele nem sequer (imagino), deu tempo para comemorar, dado a sua rejeição pelas potencias ocidentais. Ou seja, uma mudança abrupta para quem pensava ter o “controle” de uma situação. È como sair da água do rio para