As marchas de hoje e as de manhã: para onde estamos indo?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Não há como entendermos a nossa crise sem levarmos em conta
as preces e as pressas por uma agenda escatológica. Ou seja, um esforço de uma
determinada parcela da população, notadamente à evangélica, no sentido de adequar
o fluxo das coisas a uma visão possível de um ‘fim de mundo’. Não é para lá que
estamos indo?
Pois bem, há muito tempo, eu venho observando que está em curso
uma espécie de formatação do conceito e atributos de ‘Deus’ – um mais inclusivo
e um outro mais, digamos assim, tradicional. O primeiro, estaria mais para
atender a demanda do público gay, enquanto o segundo, aos defensores da família
tradicional, isto é, uma visão mais conservadora. Quem afinal vai vencer esta
parada?
As manifestações deste domingo, dia 26, não pode ser
entendia sem que ampliamos o seu espectro: para muitos manifestantes há muito
mais em jogo do que uma agenda política – há também uma espécie de batalha dos fins
dos tempos.
À aproximação do governo Bolsonaro com os Estados Unidos e Israel,
não atenderia outro público que não o evangélico. Em discussão à vinda do Messias que é
esperado tanto pelos judeus, quanto pelos cristãos. Quem afinal chegará primeiro?
A ideia de que o Brasil é uma pátria predestinada a se tornar
a nova ‘terra prometida’, desloca o epicentro das discussões e amplia as
demandas, as bandeiras de lutas. Afinal Deus é mesmo brasileiro?
Portanto, o barro da nossa crise é bem mais amassado,
misturado e complexo. Há todo tipo de sementes sendo plantadas. Ficar indiferente
ou se fazer de surdo aos diferentes tipos de gritos, é perder de vista o fluxo
das águas.
Há novas trincheiras
sendo ocupadas e desenhadas. Há novos soldados sendo treinados. Há novas
guerras em curso.
Quer ver uma destes nichos? Basta olharmos às redes sociais para
verificarmos como os assuntos que vêm ganhando mais forças é exatamente os
ligados a ‘terra plana’; a chegada de um astro intruso, o Nibiru, entre outros.
Esta é uma trincheira que as esquerdas subestimaram, e por isso mesmo, perdeu a
batalha. É aqui onde os herméticos conhecimentos acadêmicos – contestado pelos
manifestantes de hoje - são substituídos pelos chamados ‘influenciadores digitais’.
É aqui onde por mais paradoxal que seja,
o mundo das ruas, ou seja, o real, está
sendo forjado!
Em outras palavras, o país que emergirá das ruas, seja, das
manifestações de hoje, seja, as marcadas para o dia 30, precisa levar em conta
os seus vários brasis, os seus vários perfis, os seus vários oásis e desertos.
O Brasil que emergirá tem que ser mais amadurecido, plural,
forte e disposto a sanar as suas feridas. Isso só nos será possível com a
participação de todos!
Por fim, há quem interessa o conceito se a terra é plana, quadrada
ou redonda? No que isso vai implicar com o meu ‘arroz e feijão’? Seja qual for a resposta a esta pergunta, ela
incidirá diretamente na visão dominante do mundo. É isso que também está em jogo!
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