A pandemia, as vaidades e o nosso orgulho ferido


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

Quando a pandemia da covid-19 chegou vestida dos seus invisíveis tentáculos e armaduras, nós andávamos ostensivamente como aquele rei vaidoso, que acreditava vestir -se de ouro; chamando atenção para si dos mais famintos olhos, mas que na verdade estava vergonhosamente nu. Isso explica porque as nossas feridas não serão facilmente cicatrizadas: fomos atingidos no ponto onde não se alcança  nem com a mais hábeis das costuras!

Sim, de fato há outro tipo de ferida provocada pela pandemia para além daquela que é visível com as perdas dos nossos entes queridos: o orgulho ferido! É aqui em que os edifícios do ‘ideal de ser’ se desmorona. É aqui onde não fica pedra sobre pedra.

Ora isso revela que se por um lado construímos ricos palácios e templos; por outro, não fomos capazes de colocar um remendo no lugar das nossas vaidades! Isso sim é uma espantosa vergonha!

A covid-19 demonstrou a fragilidade das nossas crenças, e sobretudo, expos a mão trêmula em que acreditávamos estar a nossa (mão) segura! Porém, em tempo de avalanches de vaidades, essas nos impedem de ver, assim como aquele rei, que também estávamos vergonhosamente nus, enquanto no derretíamos a procura dos olhos e ouvidos para as nossas descosturadas pregações e retóricas!

Em outras palavras, descobrimos tardiamente que estamos nus!  De sorte que não sabemos se agora tapamos com as mãos trêmulas as nossas feridas ou se a nossa cara de vergonha!   

Tal é consequência do nosso orgulho ferido:  simplificar ou banalizar o número de mortos pela covid-19, que em solo brasileiro já ultrapassou terrível cifra dos 300 mil, e que se não for estancada tal escalada, colocará em colapso os serviços funerários.

 Ora, por fim, isso significa estarmos desprovido da vestimenta do bom senso; significa estarmos despossuídos do mais tênue do tecido humano que seja!

Amém?

 

 

 

Comentários

  1. Realmente está faltando humanidade em muitas pessoas no tratar o outro, no dividir o que tem, na maldade do comportamento de risco que impulsiona o vírus.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A roda grande passando pela pequena

Os xukurú, e a roda grande por dentro da pequena...

Medicina cabocla