As fomes e os pratos de narrativas


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

O mundo é um banquete de falsas narrativas! Por isso temos fome de tudo.  Na guerra da Ucrânia, por exemplo, há sopas e arapucas oferecidas de presentes aos incautos – muitos com a fome de justiça ou sentimento de heroísmo – outros com a fome do nada fazer. E ao chegar no campo de batalha se dão conta tardiamente de que as chuvas que ora caem por lá não fazem nascer prato de comida algum: só corpos apodrecendo em covas rasas! Brasileiros, britânicos, franceses, marroquinos e outros tantos de nacionalidades diversas, a maioria jovens, foram iscas ou sobejos de comida   em banquetes de gente grande! Muitos jamais poderão sentir outro tipo de fome, incluindo a fome de viver, pois ficaram em solo frio plantados! Culpa de quem?

No Brasil, a fome de 33 milhões de brasileiros se analisada apenas do ponto de vista de mera estatística, é prato frio, como o frio da nossa bruta indiferença! Mas essa é a fome de um país assentado nas sombras das suas cavernas, tal como aquela referida por Platão. Como assim? O Brasil de hoje, dos negacionistas, é capaz de se ajoelhar por tudo, menos de criar condições sociais, econômicas e políticas, isto é, de uma intervenção no mundo real para   colocar “o pão nosso de cada dia” sobre a mesa! Culpa de quem? Meu Deus? Não. O seu!

A fome dos 33 milhões brasileiros pode até sofrer eufemismo em narrativas oficiais, mas o sangue, que falta as veias, não! A fome dos 33 milhões de brasileiros é a real fome da desigualdade – rosto de uma realidade sem maquiagem!

E as nossas outras fomes? A fome pela falta de noticia ou de justiça pelo desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal "The Guardian" e do indigenista Bruno Araújo Pereira, revela um Brasil obeso por correntes de outras naturezas, tais como a corrente da ganância pelo lucro fácil; a corrente pelo desapreço   as vidas humanas; a corrente pelo despeito a natureza. Este é o Brazil feito às pressas com preces em templos eletrônicos.

Enfim, temos realmente fome de tudo!

Amém?

 

 

 

 

 

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