Picasso!


Por Gilvaldo Quinzeiro


Os rios secam, e se tornam rastros em caminhos de poeiras.
As mãos enchem-se de vãos e crateras. Os cabelos perdem suas raízes.
Os meninos substituem a descoberta profana do corpo por sagrados celulares comprados em sacrifícios no lugar do arroz e feijão.

O que são as aranhas sem suas teias? Quantas abelhas órfãs de flores! Ah quantas rosas artificiais a se arderem nas mãos de brutas meninas!

O homem preso em suas latas de sardinhas, nada mais antropomorfiza – fim de linha para os meninos, que já não tecem os céus com suas pipas!
Índios ocos abandonam suas ocas: uma mãe de queixo caído pelas novas coisas do mundo, trepa o dedo no WhatsApp implorando ao filho que vá ao igarapé pescar calambanjos! Que silêncio profundo!
Há tantos pajés vestidos numa calça jeans, deixando-se furtar da ideia de que o mundo já não lhe cabe mais com a bunda de fora!
Que sono profundo! Estamos sendo visitados neste exato instante por um enxame de meteoro! Oro a quem? – a Picasso?

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