A velhice e a morte: mãos e pés no mesmo caminho?
Por Gilvaldo Quinzeiro
É difícil lançar um olhar nas bordas da nossa realidade, sem
nos sentirmos meros fiapos de uma costura mal sucedida, assim como um remendo
em tecido puído! Como diriam os mais velhos: “em tecidos puídos não se prega
remendo”. Ocorre, entretanto, que este entendimento nos dias de hoje com seus
tecidos líquidos, não cola: há um desabamento do discernimento nas novas e nas velhas
gerações para, as quais, tudo é músculos.
Em tempo de ufanismo cinzento, é bom que se diga, república
dos músculos!
Bem, a realidade é parente das coisas mais brutais. Algumas
destas coisas só nos batem à porta na velhice: momento em que nem pelados
estamos livres do peso dos nossos olhos! Sim. A velhice nos arranca tudo – ao mesmo
tempo em que nos acolhe? A velhice, meu caro,
nos coloca vizinhos de tantas e tantas coisas indesejáveis, entre esta aquela
que não desejo nem pra mim: a morte!
Eu fico a imaginar como os idosos em tempo pandemia estão
olhando para dentro de si mesmos. Não há
espelho mais cortante do que aquele que nos faz conferir os nossos pedaços. Não
há espelho mais cortante do que aquele que nos diminui... Não há espelho mais
estilhaçador do aquele em que identificamos a perda do nosso brilho!
Ah! O espelho do tempo! Quão duro é chegar à conclusão de
que a juventude é uma mera metáfora. Mas... a velhice esta sim é real – real como
os pedaços que sobraram de mim!
Há pouco eu assistia um vídeo do ator Lima Duarte em que o
mesmo lamentava a morte da sua árvore, bem como de outros assuntos... Enfim,
falava destes ‘espelhos’ ... Fiquei cortado com o seu recado, mas sobretudo
fiquei envergonhado porque só então apertei o tardio gatilho do entendimento!
Velhice e morte são mãos e os pés no mesmo caminho? Ah! Meu caro ator Lima Duarte - que sorte a minha de ainda ter visto o quão era
jovem o seu rosto numa tela de televisão que ainda ‘chuviscava em preto e
branco’! Sim, aquele seu rosto, meu caro ator Lima Duarte, me fazia desejar ser
o meu quando crescesse: e agora?
E agora, bem, a vida é o que dela se aprende, meu caro ator!
A aprendizagem não envelhece nem quando
os nossos espelhos já não mais contemplam as nossas mesmas faces!
ADOREI O TEXTO ! " A APRENDIZAGEM NÃO ENVELHECE!
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