Que ódio é este meus caros “cidadãos do bem”?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Onde estava o ódio, que hoje nos faz encharcado de tanta
intolerância? É claro que o ódio é um velho inquilino da nossa alma, assim como
aquilo que convencionamos chamar de amor.
Tratando a respeito dos horrores da guerra, em resposta a
Albert Einstein, Sigmund Freud disse o seguinte: “Como o senhor vê, isto não é
senão uma formulação teórica da universalmente conhecida oposição entre amor e
ódio, que talvez possa ter alguma relação básica com a polaridade entre atração
e repulsão, que desempenha um papel na sua área de conhecimentos. Entretanto,
não devemos ser demasiado apressados em introduzir juízos éticos de bem e de
mal”.
Concordamos com a resposta de Sigmund Freud, e faremos desta,
a nossa trilha neste esforço de pensar a realidade brasileira. A realidade
brasileira que, a despeito de tanta gente de “fé e do bem”, está sendo envenenada
não só pela retórica do ódio, como pelo mal que tanta se pratica.
Pois bem, o problema desta oposição entre o ódio e amor se agrava
quando os homens, que se dizem portadores apenas do “amor” ou do “bem”,
resolvem declarar guerra aos outros homens que também se vestem do ódio ou do
mal tanto quanto os primeiros.
Em outras palavras, numa cruzada contra os ímpios, por
exemplo, seja quem tenha sido o vencedor, não terá “justos” motivos para comemorar,
senão o que lhe restou entre os dentes do último pedaço de carne a ser devorado
de si mesmo!
O brutal assassinato do congolês Moïse Kabagambe,
ocorrido no Rio de Janeiro, no dia 24 último revela entre outras coisas, que os
“sanguinários lobos” frequentam praias e têm preferência pela cor de pele ao
atacar.
Moïse
Kabagambe chegou ao Brasil como muitos outros africanos, talvez, atraídos pela
ideia de que o Brasil fosse ainda aquele pais acolhedor – com a sua “democracia
racial”. Enganou-se!
O
Brasil perdeu o charme e a elegância da “Garota de Ipanema”!
Os
ditos “cidadãos do bem” em sua cruzada contra “o mal”, que, como se sabe,
possui sotaque, cor e local de moradia, transforma o Brasil num lugar de
feridas abertas.
Os
constantes ataques sofridos aos prestadores de serviço denominado de delivery,
em condomínios de “luxo”, é algo tão truculento, vil, típico de bárbaros. A
mesma postura tem sido frequente nos aeroportos, bares e supermercados com a
recusa, por exemplo, do uso das máscaras.
Na
mesma carta direcionado a Albert Einstein, a qual mencionamos acima, Sigmund
Freud se referindo ao amor e ao ódio, escreve: “ Ora, é como se um instinto de um
tipo dificilmente pudesse operar isolado; está sempre acompanhado ou, como
dizemos, amalgamado por determinada quantidade do outro lado, que modifica o
seu objetivo, ou, em determinados casos, possibilita a consecução desse
objetivo(...). ”
Ora, seus caras pálidas, a questão como vemos é por demais
complexa para se resolver apenas com um “inflar”, assim como fazem os sapos.
A carga “positiva”
da corrente elétrica não pode operar sem o seu lado oposto, isto é, a carga “negativa”.
Tentar se insurgir contra um desses polos é ficar no escuro.
Sim, os nossos tempos, em que pese todas as preces são de
escuridão! Falta-nos ainda discernimento e sabedoria para lidar com questões de
natureza visceral.
Somos todos a raça humana! Quaisquer que sejam as condições
estaremos diante de nós mesmos, seja em Copacabana, seja numa savana africana!
O
dito aqui, portanto, partindo das premissas freudiana, nos faz compreender como
o desrespeito, a intolerância, o fanatismo, o preconceito, o desequilíbrio, enfim,
torna, de repente, uma sociedade constituída por aqueles que se intitulam de “homens
do bem” -, numa alcateia!
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