Revisitando o mito Narciso: para não se afogar nas assombrosas declarações de Donald Trump?


Por Gilvaldo Quinzeiro


O que as assombrosas declarações de Donald Trump, às vésperas de oficialmente se tornar   o 47º presidente dos Estados Unidos, quer dizer   ao citar a anexação do Canadá e da Groenlândia? Em quais águas a nova face do mundo é lançada?


 Ora, as tais falas seriam consideradas no mínimo uma declaração de guerra, se o mundo ainda fosse “o mundo”, mas não é!  O mundo hoje, se quisermos, enfim, dizer alguma coisa sobre ele, temos que vê-lo como uma “bacia” na qual os bebês, os atuais líderes mundiais, disputam o mesmo espaço para o seu terceiro banho!


 Pelo dito acima, e em nosso esforço de bem identificar as coisas, num gesto quase que desesperado para salvarmos a própria pele, somos obrigados a revisitar as perigosas e encantadoras águas do mito de Narciso, fontes nas quais a civilização atual ou o que ainda restou dela foi mergulhada.


 Essas novas águas, nas quais o Narciso de hoje lança a sua imagem, e com ela se afunda, são os úmidos ambientes das redes sociais ou das big techs, mais precisamente. É daqui que  o “novo narciso” projeta a sua imagem  em conexão e em ondas asquerosas e aquosas.


Tal como no mito antigo, com o qual já estamos   familiarizados com a questão de que “Narciso, não ver outra coisa que não o próprio espelho”, logo, se afoga na própria imagem, não é diferente de hoje. E da mesma forma que antes permanece atual a pergunta: como Narciso sabe que é bonito, sem ser amparado pela noção de alteridade, visto que não consegue se desapegar da própria imagem?


O que essas questões do mito de Narciso têm a ver com as declarações de Donald Trump? A resposta a essa pergunta pode ser formulada assim: Primeiro. As águas que banham hoje a realidade pertence ao mundo fictício. O fictício aludido aqui não significa dizer que este não seja “cortante”, e sem consequência no mundo físico. Segundo. O  fictício  ganhou carne e osso, e mais, conquistou aquilo que chamamos de “mundo” para si mesmo; e nós nos tornamos seus inquilinos. Ou seja, a Ficção, o imagético coletivo ou a matrix, é disso que estamos falando! Terceiro. Prestemos muita atenção em personagens como Donald Trump, Elon Musk, Zuckerberg, por exemplo, quem são estas figuras? De onde saíram? Quem os alimenta? O que pregam? O que propõem?  Quem os veneram? As respostas a essas perguntas, apontam para um mundo que saiu do nosso umbigo coletivo!  


Em outras palavras, esses personagens citados acima, antes deles terem sido “encarnados’, como o conhecemos hoje, em carne e osso, surgiram das “novas águas”, nas quais se fixa o inconsciente coletivo.


E agora? Bem, Elon Musk, por exemplo, está nos prometendo nos levar aos “céus” ou pelo menos a Marte. É claro que para isso, ele já conquistou aquilo que ainda ousamos chamar de o planeta Terra. Quem irá a Marte com ele? A resposta a essa pergunta tem que ser antecedida por outra pergunta real e assombrosa: quem irá herdar a Terra com ele, antes desse “Marte Prometido”? Já Donald Trump, talvez, o mais Narciso de todos, conquanto, espalhafatoso, promete iniciar uma era de uma “nova navegação” para enfim fincar suas sujas botas sobre o mapa do mundo, que de ontem pra cá se encolheu vergonhosamente. Zuckerberg, por sua vez, uma espécie de um novo Papa, promete dizer “amém” às novas feições desse mundo onde, quem não se acocorará com ele, nem de sapo servirá!


Amém?


 



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