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A complexa diplomacia do nosso tempo

Por Gilvaldo Quinzeiro   Hoje, a Venezuela, da qual ninguém quer ser vizinho. Sinais de um tempo, que atualiza Édipo, e seus complexos: estamos repetindo sempre e da pior maneira, o que Napoleão Bonaparte, para citar apenas um, por ser mais recente, entre tantos outros, que tentaram resolver suas feridas pessoais banhando de sangue o mundo inteiro. Alexandre, O Grande, por exemplo, sempre quis superar o feito do seu pai, Felipe II.  Mas, amanhã, pode ser a Groenlândia, de quem os europeus também devem se manter distantes. Donald Trump ao se comparar compulsivamente com Joe Biden, altera a escala e as regras de todas as medidas e equações vigentes: tudo é medido com a palma da sua mão. Tudo tem que atender a extensão do seu ferido ego.    Deixando as considerações psicanalíticas de lado, vivemos hoje a diplomacia do ódio e da soberba. Algo semelhante a uma caixa de fósforo. Isto é, um mundo pequeno, super povoado, espremido e onde todos estão prestes a ter sua cabeça ...

A espiritualidade em tempos líquidos e os desafios da masculinidade em escalar as montanhas

Por Gilvaldo Quinzeiro Se subir uma montanha aos gritos é a prova de que temos masculinidade, há cursos caros dando “certificado” neste sentido, e muitos homens raivosos sentados na Bíblia para realizar essas incursões – os chamados legendários -, é porque, penso, cada vez mais nos distanciamos da serenidade daquele jovem de 33 anos, que hoje dispensaria ganhar músculos numa academia ou fazer parte de quaisquer grupos de WhatsApp para pregar o mais poético e sensível de todos os discursos, a saber, o Sermão da Montanha! Ora, somente uma masculinidade puída ou recheada de dúvidas, isso a psicanálise trata como inerente à condição humana, e que mesmo na tenra infância somos tecidos por uma sexualidade polimorfa; ter como ideal bíblico ser “macho como Jesus”, não é só erotizar o próprio Pão nosso de cada dia! – O que Freud diria charmosamente fumando seu charuto, é isso mesmo – ,  como também significa levar a espiritualidade ao mesmo nível das minhocas. Este é o nível máximo de toxid...

Um assunto de saúde mental: a direita e as sandálias inflamadas do ego

Por Gilvaldo Quinzeiro Que São Francisco de Assis me perdoe, mas, às vésperas do Natal e Ano Novo, a ida às compras, não bastasse a velha preocupação com o pouco dinheiro, agora ganhou uma outra dor de cabeça, qual seja, com qual pé entrar na loja, uma vez que só existe um? Todo este nó foi dado por uma propaganda, a das sandálias havaianas, que pegou muita gente usando apenas as vísceras, o que está gerando dificuldade até mesmo na hora de meter a mão no bolso, sabe lá o que a mão esquerda vai fazer, não é mesmo? Pois bem, estamos nos referindo a propaganda das sandálias havaianas, protagonizada pela competente atriz Fernanda Torres, e um texto impecável, diga-se de passagem.  Ora, como se irritar com um anúncio que sugere “entrar o ano novo com dois pés”?  Eis a polêmica que expõe o baixo nível de discernimento de uma parcela da população – aquela que está irritada porque só agora descobriu que possui um outro pé, o esquerdo!  Mas deixando a discussão da propaganda para...

O baile civilizatório e o indivíduo barrado na entrada da porta

Por Gilvaldo Quinzeiro 1 – A civilização rejeita aquilo que é mais íntimo no indivíduo em nome do bem-estar de todos. E o que entendemos pelo mais íntimo no indivíduo? São seus desejos, odores, excrementos, agressividades, sonhos, etc. É como se recebêssemos um convite para uma ceia, com a orientação de que deixássemos a boca logo na entrada da porta. Ora, um convite desse no qual o indivíduo é obrigado a deixar de lado a sua voracidade, não pode ter efeito sem que se ofereça algo maior e melhor entronca – será? É aqui onde todos viram peixes em um lago farto de isca – motivo pelo qual vivemos todos enfartados?  Pobre indivíduo ou pobre civilização? 2 – Sigmund Freud chamaria o dito acima de “O Mal-Estar na Civilização”. Algo assim se passa numa antiga fábula contada pelos nativos da região dos cocais maranhenses que, segunda a qual, uma certa vez, todos os cães de uma localidade foram convidados para um baile, porém, em sinal de respeito ao dono da festa e de seus convidados, nenh...

Uma pedagogia para os novos eventos: o novo messianismo e suas raízes urbanas

Por Gilvaldo Quinzeiro  Durante a primeira fase da República (1889-1930), tivemos aquilo que a historiografia chama de movimentos messiânicos, Canudos, Contestados e outros. Todos,  de alguma forma , atravessado pelo sebastianismo. Era o ruir de uma estrutura social, econômica e espiritual. O velho e novo se degladiando! Hoje, há um discurso escatológico adaptado aos novos tempos. E aquilo que antes se restringia ao rural, a ignorância sertaneja, nos dias atuais faz parte das metrópoles mediada por por uma racionalidade sim; acadêmica sim, porém, negacionista! Aquilo que antes era aferrado a D. Sebastião, hoje, Jair Messias Bolsonaro. A prisão de Jair Bolsonaro ocorrida no dia 22 de novembro, é um duro golpe para uma parcela da população, que reza para que “ o sertão vire mar", mesmo negando a esfericidade da Terra ou que na “nova arca de Noé”, vamos precisar de todos, incluindo dos primos insetos! Onde erramos? Onde chegamos? O que estamos a repetir? O que o dito acima quer d...

Como peixes fora d’água: a crise da segurança pública e os novos rios da geopolítica

Por Gilvaldo Quinzeiro Desde que o mundo é mundo, mesmo no chamado período clássico dos gregos, período este que correspondente ao surgimento da democracia e do pleno vigor intelectual de homens como Sócrates, Platão e Aristóteles, que constituíam uma espécie de Santíssima Trindade do pensamento, foi atravessado por crises. Mesmo, Sócrates, quem esperaria isso, foi condenado pelas suas ideias a tomar veneno com as próprias mãos! Toda crise tem o poder de expor, para além daquilo que toda crise revela, o esgotamento dos conceitos e das ferramentas no emprego das suas resoluções! O mesmo ocorre com a atual crise de segurança, aliás, a nossa velha crise! Em outras palavras, as crises, sejam quais forem elas, colocam os peixes para fora d’água. É isso que está acontecendo neste momento. Mas que momento é este? Pois bem, em tempo movido e arquitetado pela Inteligência Artificial, como não esgotar a própria atitude de pensar? Ou como evitar que o que se combate não se faça alvo das nossas ar...

E se a guerra que já começou terminasse hoje?

Por Gilvaldo Quinzeiro   Qualquer guerra hoje, seja a de narrativa, que faz do mundo real  uma sofisticada e perigosa  caverna aos modos de Platão, onde todos a despeito do conforto dos seus quartos, não passam de corpos feridos ou apodrecidos em virtuais trincheiras ;  seja a econômica, que expõe o cenário em que  as vísceras lutam uma contra as outras para sobreviverem com as promessas de migalhas; seja a guerra propriamente dita, com o emprego das armas; de armas cujas tecnologias e precisão tornam soldados reais obsoletos ou dependendo da visão de quem quer que seja em “anjos”. Sim, somos tão perdedores quanto o soldado grego  Fidípides   que, ao correr de Maratona a Atenas, cerca de 40km, para, ao chegar exausto pronunciar “vencemos!”, caiu  em seguida morto!  Sim, somos tão perdedores quanto Pirro! Independe de que lado da guerra em que estamos, somos todos  Fidípides,  especialmente  nas nossas guerras travadas pela...