Aos esquecidos de si mesmos: ouçam as pedras!



Por Gilvaldo Quinzeiro


Que tempo é esse? Se quiser saber da resposta ouça as pedras. Mas como fazer isso se já não temos mais ouvidos nem para ouvir direito as nossas preces, estas hoje, mais do que ontem mais apressadas!

Valei-me meu Deus!

Vivemos o paradoxo entre a ‘imediatidade’ das coisas, das coisas feitas com a finalidade de serem descartáveis, aos passos que lutamos duro para que ao menos a nossa face de amanhã nunca chegue, porque é com a de hoje que abrimos todas as portas. Incluindo aquela porta que acreditamos ser a do nosso destino.

Ora, as coisas descartáveis, ver aí tudo a nossa volta, são feitas de plástico, logo, não é o seu simples descarte que irá dar a cabo destas. Muito pelo contrário, estas durarão por um belo tempo - mas, quanto as nossas faces, estas sim, pela força do tempo são de fato passageiras.

Pense bem, o dito aqui por mais que seja sugestivo, não é no sentido de, tornarmos as nossas faces de plásticos, conquanto, em certo sentido, somente assim as tornaríamos mais duradouras. Os “caras de pau” sabe bem o que eu quis dizer!

Amém!

Bem, é neste contexto mediado pela momentaneidade que eterniza a nossa pressa que eu penso em conservar as minhas memórias, assim como as pedras, isto é, em silêncio.

As pedras são portadoras de toda a memória ao longo do tempo. Quisera então ouvi-las falar de tudo que sabem – Oh como tudo se desmancharia!

Sim. Uma coisa precisa ser dita: nunca precisamos e precisaremos ouvir as pedras, para, não dúvida a respeito de quem somos, erigirmos ao menos uma escuta. Um outro tipo de escuta, e não aquela habitual que apenas “emprenha” os nossos ouvidos!

Em outras palavras, vivemos uma época de muito “esburacamento” e vazios. E uma das piores perdas no tocante a consequência disso, é a repentina e absoluta falta de memória. 

Ora, como se dar a relação com o tempo ou com os tempos, senão em alusão a memória!

Eis a questão. Neste tempo onde tudo facilmente se desmancha, façamos das pedras o nosso espelho, tal como os antigos egípcios fizeram das suas pirâmides, as suas faces!

Um bom domingo a todos!





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