Façamos da nossa dor, um parto



Por Gilvaldo Quinzeiro



1 – Hoje, assim como há milhares de anos nas escuras cavernas, passa-se o tempo sem que possamos ao menos dar nome as coisas, aos fenômenos, em especial, aos nossos sentimentos, as nossas dores e aos nossos sofrimento, uma vez que, assim como nos tempos das cavernas, há muito mais coisas que nos escapam o significado, com a diferença de que hoje temos a palavra, enquanto em outros tempos só os próprios gemidos.

2 – Que sofrimento é maior, aquele em que mesmo se tendo palavras, conquanto estas não sejam suficientes para nomeá-los ou aquele em que por ainda não se ter alcançado às condições do uso e domínio das palavras, como nos tempos das cavernas, e que por isso, tudo se constituía em boca a devorar?                                                                                                                

3 – Aliás, como diz Sigmund Freud, é pela boca que tomamos contato com aquilo que chamamos de realidade. É também pela boca dos outros que que ouvimos pela primeira vez o nosso nome e a respeito do que somos ou do que gostariam que fôssemos.

4 - Qual o nome da nossa dor? Qual o lugar do nosso vazio? Onde está a nossa dor no corpo ou na alma? Qual o limite entre o físico e o espiritual?

5 –O que é o corpo hoje senão uma caverna tatuada no vão esforço de afugentar os fantasmas? Que fantasmas se sentiriam ameaçados pelos símbolos das nossas tatuagens? E quanto ao sujeito dono da tatuagem é ele também dono do seu próprio corpo? E quanto ás fabricas de pensamentos aterradores quem as alimentam?

6-  Pois bem, a propósito do “setembro amarelo”, e com a intenção de contribuir no que tange a prevenção de suicídio, eu recebi bilhetes e cartas, ouvi pessoas, mais precisamente jovens, em seus primeiros desabrochar, que se diziam partidas ao meio por dores, as quais não sabiam justificá-las, nem nomeá-las, ao mesmo tempo que eram acometidas de uma avassaladora angustia acompanhada por um sentimento de culpa.



7 – Diante de tais condições, pergunto-me, o que dizer a estas pessoas? Qual o remédio para os seus males? Aliás, que tipos de males as afligem?

8 – Ora, nestas condições em estamos rachado ao meio pela dor que não podemos localizar e nem dar nomes, entendo que fazer silêncio para desenvolver a escuta – a escuta dos nossos próprios fantasmas – seria   um parto para o nosso renascimento.

9 -  Sim, a constituição de um sujeito não se dá com a dor do primeiro parto, e nem as primeiras mamadas serão suficientes para nos nutrir de outras a fome, como a fome de sentido e significado.

10 -  Em outras palavras, faz-se necessário não um morrer, ainda que de diante da dor nos sintamos impotentes, mas que façamos desta dor, uma dor de um novo parir, de um novo renascer.

11 -  Pois, não falta de útero protetor, na falta mães e pais, precisamos tomar em nossos próprios braços o bebê ou a criança que há ainda dentro de nós a se espernear por atenção cuidados.

12 – Se diante dos desafios não conseguimos nos manter de pé, então que engatinhemos; então que caiamos, mas levantemos sempre quantas vezes for precioso, pois, se aqueles a quem chamamos de mães e pais tivessem desistidos nos primeiros tombos, nenhum de nós estaríamos aqui.

13 – Sim, é o amor que que devamos   ter por nós mesmos que será o verdadeiro parto e a nossa verdadeira mãe por toda a nossa vida!




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