Os terrivelmente perdidos


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

1 – O terrível tempo em que as palavras se inflam no vão esforço para representar as coisas; as coisas que já não são mais representadas pelas palavras, dada a sua volatilidade. Este tempo não poderia ser outro senão aquele em que os homens já disputam entre si suas vísceras como fazem as aves de rapinas. Mas há entre nós quem ainda seja homem?

2 – Eis uma terrível dúvida!

3-  O ‘ão’ das palavras como safadão, pancadão, ou o ‘aço’ contido em outras, como panelaço, beijaço, revelam apenas a nossa falta de fôlego de tão inflados que estamos. Sim, estamos terrivelmente inflados pela pressa disfarçada de prece e pelas outras coisas que tais.

4 - O termo ‘terrivelmente evangélico’ tão usado na intenção dizer algo, para o qual não se tem palavras adequadas, é, por exemplo, uma espécie de ‘batismo’ do quanto estamos terrivelmente perdidos, e sem qualquer noção das bordas dos acontecimentos. Que acontecimento mais notório senão que estamos todos perdidos?

5 – É claro o que o termo também poderia ser dito para também   significar ‘terrivelmente’ outra coisa, contudo, não passaria de mero esforço de inflar a bolha ilusória, que nos sufoca.

6 – Sim, uma das marcas do nosso tempo é a angustia por habitarmos uma bolha ilusória, onde temos que conter a própria respiração para evitar sua explosão.

7 -  Neste tempo ‘terrivelmente alguma coisa’, as eleições municipais (em tempo de pandemia) revelam o óbvio e o esperado – uma enxurrada de candidatos ora se passando por santos, ora usando o nome de Deus como meras máscaras... Aliás, meus gafanhotos, Deus sabe que não precisa das nossas terríveis preces! Amém!

8- Por fim, a travessia do Mar Vermelho é mais embaixo – ainda não há nenhum Moisés entre nós, e pelo andar da carruagem, nunca haverá! Essa sim, é a mais terrível das verdades!

 

 

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