Quão somos feios, primo!


Por Gilvaldo Quinzeiro

A pandemia, que hoje no Brasil já ultrapassou 250 mil mortos escancara o que temos de pior e feio (ainda bem?): algo que encheriam os olhos apenas de uma plateia composta só por   insetos! Que me perdoe os insetos por essa feia comparação com aquilo que há de verdadeiramente mais assustador neste momento – o próprio homem!

O feio ou pior aqui não é apenas em relação ao número de mortos, que a cada dia aumenta, e sem surpresa, mas sobretudo no que diz respeito a rapidez com que fechamos os olhos para isso, e continuamos nos achando bonitos e merecedores da graça de Deus! O dito aqui não é no sentido de fazermos escandalosas e chorosas procissões pelas perdas, mas acordarmos para o fato de que menos mortes ocorreriam se se nos protegêssemos... Ir bonito a uma aglomeração pode resultar na feiura dos caixões empilhados e sem velórios...

Sim, é estranho como de todas as espécies somos únicos a acreditar que somos bonitos! O narcisismo é o centro disso. Neste sentido, a última coisa que iremos perceber é que estamos nos afogando...

A pandemia da covid-19, nos revelou que as pegadas humanas que nos trouxeram até aqui depois de uma longa e difícil caminhada evolutiva que -  ainda somos capazes de sentar e brincar na própria merda: o que para Sigmund Freud não seria nenhuma novidade, mas apenas a confirmação dos seus assustadores escritos!

Mas o que há de feio em nós que a pandemia escancara? A perda do controle dos esfíncteres, isto é, uma espécie de fio dental que nos separa do animal. O dado aqui que também só confirmaria Freud, revela também algo paradoxal. A mesma sociedade que incentiva seus filhos a malharem; a desenvolverem músculos e corpos, esqueceu de ensinar que pensar erige também a boca, bem como o lugar do corpo em que a boca ocupa.

Pensar, primo, isso pode até soar engraçado. Mas de outra forma não entenderíamos que a ‘graça’ do macaco só a nós diz respeito. O macaco mesmo é como nós: também sem graça!

 

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