Em tempos de guerras, uma carta a Sigmund Freud
Por Gilvaldo Quinzeiro
Meu caro Sigmund Freud, a medida em que a guerra entre
Rússia e Ucrânia avança, hoje é o 11º dia, nos afloram os instintos mais animalescos.
Os mais obscuros e os mais pervertidos sentimentos ficam nus. Nestas condições,
entretanto, não há como manter o controle dos esfíncteres – e com toda as desculpas
que devemos pedir aos sapos - estamos de
cócoras com estes!
As recentes
declarações compartilhadas em áudio entre “amigos” pelo Deputado Estadual Arthur
Duval (Podemos-SP) a respeito das mulheres ucranianas - em fuga para longe dos horrores da guerra –
revelam, entre outras coisas, porque a humanidade chegou às condições
pantanosas.
Sim, meu caro Sigmund Freud, os filhos das nossas elites –
meninos criados nas tetas fartas do sistema - querem a todo custo se divertir
com a vida dura dos outros. Mas o máximo que conseguem é ostentar “aquilo” tão
pequeno!
Ora, é fácil ostentar a massa muscular numa situação em que
a fragilidade das “canelas” do outro não lhe leva mais nenhum lugar, o difícil,
porém, é ter cérebro para pensar as consequências de se fazer turismo (sexual
ou não) numa região de guerra!
Ora, encontrar “sensualidade” nos olhos de quem está com
medo de ser estraçalhado por bombas é, entre outras tantas coisas, estar
desesperado para querer “gozar” a qualquer custo, inclusive, com a dor do
outro.
De fato, meu caro Sigmund Freud, sem os cavalos, antes
selvagens, ‘a civilização’, se é que algum dia nos civilizamos, teria nos
chegado mais tardiamente – em passos que talvez a nenhum lugar teríamos chegado
ou sem força suficiente para conseguirmos dominar as tribos.
Mas para o cavalo
servir de montaria aos homens; mas para o cavalo ceder os lombos aos homens,
foi preciso lhe abrir sangue com as esporas; lhe fazer sair fogo pelas narinas
e lhe fazer curvar – um quase se ajoelhar - aos sotaques enlouquecidos dos chicotes.
Por fim, meu caro
Sigmund Freud, o dito aqui não é nenhuma justificativa para se usar da
crueldade em quaisquer que sejam as cruzadas ou as justas guerras santas. Mas
apenas para lhe dizer a respeito do bruto cavalo que somos e de que quão grande
selvageria se oculta nos belos traçados de qualquer arte humana.
O menos bruto aqui é, portanto, o cavalo!
De um simples filho da mãe!
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