O lado racional numa guerra é o cavalo


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

1 – Sem os cavalos, antes selvagens, ‘a civilização’, se é que algum dia nos civilizamos, teria nos chegado mais tardiamente – em passos que talvez a nenhum lugar teríamos chegado ou sem força suficiente para conseguirmos curvar as tribos.

2 -   Mas para o cavalo servir de montaria aos homens; mas para o cavalo ceder os lombos aos homens, foi preciso lhe abrir sangue com as esporas; lhe fazer sair fogo pelas narinas e lhe fazer curvar – um quase se ajoelhar -  aos sotaques enlouquecidos dos chicotes.

 

 3 – O dito aqui não é nenhuma justificativa para se usar da crueldade em quaisquer que sejam as cruzadas ou as justas guerras santas.

4 – Mas apenas para dizer a respeito do bruto cavalo que somos e de que quão  grande selvageria se oculta nos belos traçados de qualquer arte humana.

5 – O menos bruto aqui seria o próprio cavalo.

 

6 – Todavia, O cavalo teria melhor nos civilizados?  Essa é uma pergunta difícil de responder. Mas para efeito da nossa reflexão é uma espécie de coice em nossas arrogantes pretensões.

7 –  Em que pese o chicotear desse questionamento,  e, se de modo consciente ou inconsciente ; se temendo que algo lhe pudesse sair do controle ou não, o certo, contudo, é que o homem, colocou o freio no cavalo, não em suas patas, mas na boca.

8 – A história nos reserva duas passagens intrigantes, onde homem e o cavalo por muito pouco não inverteram os seus papeis.

9 – A saber, o caso do imperador romano Calígula que, exigia da cidade de Roma o silêncio noturno absoluto, quando seu cavalo, chamada por ele de Incitatus, no dia seguinte fosse correr em alguma competição. E como se não bastasse, Calígula, para assombro dos romanos, o nomeou senador.

10 -Outro caso, o do rei não menos poderoso, Nabucodonosor, depois de aprisionar os hebreus, se transformou num cavalo. Pelo menos é o que a Bíblia, um livro tomado como pilar da nossa civilização ocidental, no leva entender.

11 – Alguns, poderão estar a falar baixinho: não.  A bíblia não fala literalmente que Nabucodonosor se transformou num cavalo, mas em algum animal que comia erva como boi. Sim. De fato. Mas seja o que for, no que este rei tenha se transformado, o fato alude para a nossa natureza selvagem.

 

12 – A mesma selvageria percebida e pintada por Pablo Picasso no bombardeio que atingiu Guernica durante a guerra civil espanhola.

13 – Ou seja, a ‘cavalização ‘ em lugar da civilização. A carnificina em lugar da poesia.

14 – Tempos depois, na Primeira Guerra, cavalos e homens ou se não lutaram lado a lado é porque um servia de montaria para o outro. A cada 2 homens mortos, 1 cavalo tombava. No total foram 8 milhões de cavalos mortos.

15 – A morte de um cavalo significava mais do que um soldado sem montaria -  conjunto de força, determinação e beleza – o cavalo era em si mesmo o lado mais racional da guerra.

16 – Nas religiões de matrizes africanas quem é afinal o cavalo? Por que afinal o presente grego dado aos troianos tinha a forma de um cavalo? Por que afinal o cavalo de Perseu, o Pégaso, é o nome de uma constelação? Por que afinal Alexandre, o Grande, fundou a cidade de Bucéfala em homenagem ao seu cavalo, Bucéfalo?   Por que afinal no bicentenário da morte de Napoleão Bonaparte foi colocado sobre o seu tumulo uma representação artística do esqueleto do seu cavalo favorito Marengo

17 – Sim, neste momento em que fazemos da Ucrânia a montaria para todo tipo de paranoia e interesse, os cavalos hoje substituídos pelos tanques e bombas, nos fariam sentir mais humanos    e seguros do que pelas mãos dos  atuais líderes  mundiais!

 

 

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A roda grande passando pela pequena

Os xukurú, e a roda grande por dentro da pequena...

Medicina cabocla