Os atuais carnavais: sinais e leituras da sua não mais realização de catarse?


Por Gilvaldo Quinzeiro


O carnaval naquilo que pode significar uma leitura do mundo real é perfeito! Não há nada que se compare ao seu feito.  Além de nos remeter a função de catarse na tragédia grega, tal como descrita por Aristóteles numa das suas mais famosas obras, “Poética”. A questão a ser levantada é:  os enredos das escolas de samba atuais ou das fantasias dos foliões estão a representar o mundo cuja catarse nos aliviaria da dor de não pertencermos à mundo algum, posto que vivemos em bolhas que não suportam sequer um sopro do mundo real? Ou será que o carnaval se tornou prisioneiro das mesmices que de tanto repetir se tornaram refrão das nossas pálidas vidas sem força para se vestir de quaisquer fantasias?


Em “o nascimento da tragedia”, Nietzsche já se queixava da perda do vigor, dessa força de vontade, da qual a tragédia se nutria, por conta da prevalência do formalismo apolíneo sobre as coisas dionisíacas.


Ora, o carnaval sem o cheiro, o fervor e o canto do povo, não é carnaval – é apenas propaganda para se vender uma marca de cerveja ou a prévia de uma campanha eleitoral – vitrine para candidatos de carne e osso sem o mínimo de escrúpulos que de mãos dadas com os seus cabos eleitorais institucionalizam o permanente estado de campanha eleitoral! Meu Deus? Não o teu!


Isso sem falar de uma espécie de guerra declarada   do segmento evangélico ao reinado de Momo, para impor uma agenda dos “bons costumes”, e finalmente se apoderar desses “três dias” do calendário em atendimento a demanda do mercado gospel!


Sejam quais forem os tecidos e os formatos do mundo atual, uma coisa permanece humanamente inalterada, a saber, o barro da nossa culpa – matéria-prima da qual as mais rígidas das construções são erigidas, dos templos aos preceitos religiosos.


A culpa enquanto  “barro” das nossas instituições.  Tal como preconiza Sigmund Freud em "Moisés e o Monoteísmo" (1939), que sugere que Moisés foi assassinado pelo povo hebreu, que posteriormente reprimiu a memória desse ato.  De sorte que esse evento traumático teria deixado marcas profundas no inconsciente coletivo do povo judeu, influenciando sua religião e sua cultura.


Se o carnaval perder a sua função de catarse, como é possível que venha  perdendo,  fogueiras serão acesas: para destinos de muitos corpos reais?


Amém?

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