Onde estava a ‘tempestade’ antes desta se tornar tempestade?


Por Gilvaldo Quinzeiro
O texto abaixo é um esforço crítico no sentido de levantar algumas questões a respeito das manifestações antirracistas, que ora ocorrem no mundo, relacionando-as com os possíveis desdobramentos em solo brasileiro. Terão estas uma coisa a ver com a outra? Quais as nossas condições que se assemelham com as dos Estados Unidos? 
Ei-lo.
Uma tempestade não nasce tempestade. A sua formação é a junção de vários fatores atmosféricos, por isso, esta pode ser previsível e anunciada. A declaração do Presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, em áudio publicado pelo Jornal “ O Estado de São Paulo”,  chamando o movimento  negro de “escória maldita, que abriga vagabundo”, bem como  outras declarações da mesma natureza  feitas por bolsonaristas ou  até mesmo por membro da equipe do atual  Governo, no momento em que o mundo todo assiste uma onda de protestos antirracistas provocados  pela morte de   George Floyd, por um policial branco, não  é atrair uma tempestade, que poderia passar ao longe para seu próprio colo? 
Da mesma forma que as manifestações antirracistas, que ganham não só as ruas das principais cidades norte-americanas, não obstante, a decretação do toque de recolher em algumas delas ou as ameaças do Presidente Donald Trump em fazer uso do exército para conter os protestos, além de ganhar também as ruas de outros países, é a junção de vários fatores, entre estes, a postura autoritária e o flerte de Trump com grupos declaradamente racistas - no caso do Brasil, onde Presidente Jair Bolsonaro não esconde de ninguém os seus estreitos laços afetivos não só com Donald Trump, bem como se identificando com a sua política, não há  também a junção dos mesmos fatores, ou seja, que provocaram os protestos nos Estados Unidos? 
As manifestações, que tiveram início no último domingo, aqui no Brasil, e que   novas manifestações estão sendo marcadas para o próximo, não têm como ‘combustível’ o aumento da escalada do discurso autoritário do governo, revelado por exemplo, no vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril? Ou será que tais manifestações nasceram do nada?
A manifestação do grupo dos 300, que ocorreu no último domingo em Brasília, o centro do poder político; manifestação esta de caráter claramente   supremacista, e que não houve por parte das autoridade do Governo Federal qualquer atitude de reprovação, não é um fator a contribuir para uma reação não só do movimento negro, mas de toda a sociedade contrária a este tipo de ideologia? 
Um Presidente que fala abertamente em armar a população, como é o caso de Jair Bolsonaro, e que não deixa claro que parcela da população será armada (a negra?  A favelada? A indígena? A quilombola?)  e nem por que motivo será armada, está contribuindo para  gerar que tipo de clima no país? 
Enfim, podemos estar no meio daquilo que os analistas costumam chamar de uma ‘tempestade perfeita’.
Eis a questão!

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