Os protestos pela morte de George Floyd, a crise da covid-19: o que há para além disso?



 Texto: Gilvaldo Quinzeiro
 Ilustração: Oriel Wandrass 
A morte do afro-americano George Floyd, no dia 25 de maio, por um policial branco em Minneapolis, Minnesoto, Estados Unidos, e que se transformou numa gigantesca manifestação antirracista em todo o mundo, marcou a ruptura da nossa ‘bolha ilusória’, já bastante afetada pela crise causada pela covid-19, e que não obstante termos atingido à assombrosa marca de mais de 7 milhões de pessoas contaminadas e mais de 400 mil mortas , continuávamos a fechar os olhos para o quão doentio é o nosso estilo de vida. Chamamos de nossa ‘bolha ilusória’ o nosso atual estilo de vida, que cada vez mais se afasta das mensurações raciocinais. Estilo de vida este, que é cada vez mais alimentado pela perigosa mistura de apelos consumistas, hedonistas, bem como de ideologias supremacistas, onde estas insistem em pregar a não divisão do ‘pão e da terra’ com os demais, pois se colocam acima de todos; somam-se a este quadro, as crenças de caráter fundamentalistas que demonizam aqueles que não partilham da mesma fé ou aqueles que não estão na mesma ‘fila dos que vão para os céus’ ao mesmo tempo em que apressam as preces pelo ‘fim’ como condição de alivio. O ‘fim’, diga-se de passagem que confirmaria e justificaria das suas crenças. Agora foi formado duas gigantescas onda, e que se transformaram numa só: a onda devastadora provocado pela covid-19, que é também de certo modo ‘civilizatória’ e a onda de protestos antirracistas, mas que tomam feições próprias dependendo do lugar em que esta passa, a exemplo do Brasil, onde as bandeiras antifascistas, favor da democracia e contra o governo assumem suas peculiaridades. Assim que começou a crise da pandemia da covid-19, chamamos atenção de que esta não viria sozinha. Como temos repetidos, nada do que ainda está por vir, não virá sozinho. Portanto, estamos no meio daquilo que alguns analistas costumam chamar de ‘tempestade perfeita’. A ruptura da nossa ‘bolha ilusória’, isto é, da ruptura de um certo estilo de vida, como por exemplo o de passear no shopping ou de malhar numa academia; sair a um barzinho para se juntar aos amigos. Tal ruptura, faz com que nos comportemos como um pinto pelado recém saído do ovo. O ovo que apesar da sua tênue espessura em tese lhe servia de proteção. E agora? Como eu também tenho falado, não podemos sair desta crise pior do que quando nela entramos. Mudanças de natureza política e econômica precisam ser feitas. Isso na escala governamental. Mas nada disso terão eficácias, se não forem feitas as mudanças também dentro de cada um de nós enquanto indivíduo. Não haverá alternativa de um mundo melhor, se não formos capazes de aprender com as duras e necessárias lições da crise atual. Não podemos continuar agindo com o nosso Planeta como se este não fosse um sistema vivo e complexo, e que por isso mesmo serve de moradia também para diferentes espécies, e não apenas a humana – daí a necessidade do nosso respeito para com todo o tipo de vida! Mas também não podemos continuar agindo sem respeitar uns aos outros, em que pese as nossas diferenças culturais, raciais, religiosas e políticas. Mas também não podemos nos alegrar com abertura das portas do paraíso, ao mesmo tempo em que condenamos às chamas dos infernos alguém com a nossa indiferença! Portanto, os desafios que nos aguardam na pós-pandemia serão gigantescos! Não podemos nos dar o luxo de prescindir ninguém. Todos aqueles que sobreviverem a esta crise terão também que ter não só gratidão, como também a responsabilidade de semear as lições aprendidas, bem como o compromisso de assegurar o futuro para todos! Bem-aventurados aqueles que amarem uns aos outros sem que para isso seja necessário enfrentar a fila dos que vão para os céus! Só o amor nos salvará de tudo que possa vir a nos transformar pior!

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