Uma pane no software civilizatório

 

Por Gilvaldo Quinzeiro 

Na idade da pedra, onde todos os sistemas operacionais eram feitos à base de músculos, perder a força muscular, era ficar literalmente lascado conforme os dizeres de hoje. Eis o que eu chamarei daqui para a frente de desgaste no ‘software civilizatório’, isto é, de tempo em tempo a humanidade vive uma espécie da pane. Algo que eu acredito que estamos vivendo no momento atual.

A intenção deste texto, portanto, é, ainda que forma superficial, chamar atenção para os aspectos da nossa crise, que é não só pandêmica, política ou econômica, mas relacionada ao nosso software civilizatório, ou seja, a toda nossa programação e condicionamento cultural, seja essa programação de caráter teológico, político, filosófico e cientifico – que chegou ao limite da sua capacidade operacional!

Quem foi criado ouvindo rádio conhece bem a frase “trocar as pilhas “!  Ou seja, quando as baterias estavam desgastadas, o que tornava o som do rádio pouco ou completamente   inaudível - um desconforto insuportável para toda uma geração - perdia-se a onda sonora retransmitida para o mundo! O mesmo desconforto, que é sentido hoje quando o software de um computador está ultrapassado exigindo a sua reformatação. Ora, quem nunca esmurrou o seu computador no vão esforço de fazê-lo funcionar?

Pois bem, O que se chama de apocalipse, medo para uns e   pilar para os apressados “saltos" de outros, é, na verdade, um problema no software, isto é, uma situação limitante das capacidades operacionais das coisas, o que nos exige, por conseguinte, uma reformatação. Dito com outras palavras, chegamos ao extremo do elástico esticado. Há agora o seu efeito de volta: dura lapada em nossa cara!

Há um esgotamento de padrões conceituais/mentais ou paradigmas presente nos dias atuais.  Ou seja, vivemos uma crise muito mais aguda do que possamos expressá-la...

Em outras palavras, chegamos a um ponto em que a civilização não consegue ouvir ou perceber a si mesma, pois seu software perdeu a sua capacidade operacional; um software, que não responde as atuais demandas. A consequência disso não poderia ser outra: somos peças fora da caixa; somos uma espécie de palito de fósforo riscado...

Isso mesmo, o sistema civilizatório sofreu uma pane! Estamos em trem desgovernado!

 Somos hoje um “disco" ralado”, onde cada um ouve tudo não condição de ruídos; uma orquestra desafinada. Perdemos a capacidade de síntese! 

Somos parte de um exército, que marcha para uma guerra sem comando e sem unidade.  Cada um cava a sua trincheira ou resolve disparar as suas armas em alvos aleatórios.  

A pandemia da covid-19 por sua vez, nos revelou, entre outras coisas, o quanto nos tornamos enferrujadas peças; enferrujadas peças de uma engrenagem que há muito tempo precisava de reparos.

Por fim, somos hoje perigosas máquinas desgovernadas tentando se reprogramar, mas o máximo que fazemos é nos contorcer com um tiro no pé!

Ufa!

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