Bolsonaristas em pânico? Uma reflexão sob a ótica freudiana


Por Gilvaldo Quinzeiro

A Deputada Federal Carla Zambelli (PL-SP) num vídeo em que pede para “os generais salvarem nossas almas” (a alma dela e as dos bolsonaristas), embora esta frase possa ter passada desapercebida para muitos, porém, ela será usada por nós como ponto de partida e atenção da nossa análise, a saber, o ‘salvador’ não é mais Jair Messias Bolsonaro.  Pelo contrário, Jair murchou a bola, e já não mais faz parte do jogo. Isso reforça a tese de que os bolsonaristas não só perderam o seu eixo, isto é, o seu ponto de aglutinação e de equilíbrio, como estão à procura do que se agarrar:  nos muros dos quarteis!

Em outras palavras, órfãos do seu líder, e é bom que se diga órfãos também das profecias, que anunciaram a vitória de Jair Bolsonaro, agora, como não poderia ser diferente, os bolsonaristas estão em pânico, logo, o que se ver são ações destrambelhadas para salvar-se quem puder!  Isso sem falar que foram derrotados tanto no primeiro, quanto no segundo turno das eleições.

A análise contida neste texto, bebe e se apoia nas fontes freudianos, que, com sede, tentaremos compreender as águas, que já nos afogam. O Brasil vive um momento de cegueira coletiva!   De sorte que sem que retornemos à luz, isto é, a razão, como diriam os iluministas do século XVIII, estaremos perdidos nas noites sem reconhecermos o nosso próprio rosto.

Pois bem, em tempo de delírios coletivos, adoecimentos das massas e a invocação à pratica de sacrifícios em ‘defesa da Pátria’, como um golpe de estado, o que nos  levaria certamente a uma guerra civil,  como estamos vendo no Brasil de hoje,  em especial, depois do dia 30 de outubro com final das eleições presidenciais, nunca se recorreu tanto a Sigmund Freud para ‘explicar’ o surgimento destes fenômenos, logo, é bom que se diga que Freud permanece atual e necessário para o desvendamento das coisas obscuras da mente humana.

E neste particular a obra freudiana mais lida e comentada nestes dias nas redes sociais é “Psicologia das Massas e a Análise do Eu” (para outras traduções), publicada em 1921. Nós aqui também iremos fazer uso desta obra em apoio ao nosso esforço de compreender alguns aspectos da conjuntura atual.

 Na introdução desta citada obra, Freud usa o pensamento de Le Bon com o qual concorda: “ Num grupo, todo sentimento e todo ato são contagiosos, e contagioso em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Trata-se de aptidão bastante contrária à sua natureza e da qual um homem dificilmente é capaz, exceto quando faz parte de um grupo. ”

Estamos, portanto, diante de um contágio coletivo. As pessoas, no caso, os bolsonaristas, em especial, aquelas que estão acampadas em frente aos quarteis, estão “vendo e ouvindo” apenas aquilo que lhe estão sendo sugestionados, tal como ocorre no fenômeno presente na hipnose.

Um pouco mais na frente, Sigmund Freud escreve:  “é impossível duvidar de que o pânico signifique a desintegração do grupo; ele envolve a cessão de todos os sentimentos de consideração que os membros do grupo, sob outros aspectos, mostram uns para com os outros”.

Ora, não é a coragem ao contrário do que se pensa, que está impulsionado os ‘patriotas’, mas o pânico coletivo. O pânico é tão contagioso, quanto um vírus.  Nestas condições, o ego antes inflado pelas bolhas coletivas tendo como centro a figura do líder, agora sofre prejuízos enorme quando confrontado com a realidade.

Sigmund Freud escreve o que, não só concordamos com ele, como, para efeito de nossa análise reforça o nosso ponto de vista aqui defendido:  “ a perda de um líder, num sentindo ou noutro, o nascimento de suspeita sobre ele, trazem a irrupção do pânico” (...).

E falando sobre a perda de um objeto (no sentido psicanalítico) e a tendência do sujeito da perda é incorporá-lo no próprio ego como um esforço de recuperar o objeto perdido, Sigmund Freud cita o seguinte exemplo: “uma criança que se achava pesarosa pela perda de um gatinho declarou francamente que ela agora era o gatinho, e, por conseguinte, andava de quatro, não comia à mesa, etc.”  Isso explicaria o comportamento dos bolsonarista nas manifestações fazendo saudações para um pneu ou ainda o comentário de que o Bolsonaro estaria agora no corpo de Lula? Sim. Sem dúvida.  A perda ou ausência do líder (Bolsonaro) está levando os bolsonarista no mínimo a substitui-lo por outro   objeto de devoção. É claro isso não se faz sem sofrimento e sem sentimento de culpa! E para aliviar a culpa se pratica o sacrifício...

Por fim, a fala da Deputada Carla Zambelli escancara o mal-estar no grupo bolsonarista. Uma mudança de eixo ou de narrativa a todo momento tem sido umas das suas marcas. A toda semana um dia D – à espera do ‘prometido’! Enfim...  Mudaram até mesmo camisa amarela com a qual tanto se identificavam?

 

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