A vida, a boca e o beijo: a continuação das tragédias gregas?
Gilvaldo Quinzeiro
A boca que devora é a mesma que afaga com um beijo? Veja só em que “boca se entra” ao mesmo tempo em que se acredita que é pela vida que se luta!...
Como contestar os gregos no que a vida tem de trágico, ainda que para outrem seja cômico o ato desesperador de perder a vida?
Como no amor não ser espartano, se não há como fazê-lo sem, no entanto ser voraz?
Ah, como tudo é espantosamente contraditório, tal como a cangalha que se assenta no burro para do burro se servir de assento!
Quantos cavaleiros burros! Quantos burros cavalheiros!
Ora, não deixando tudo como dito qual a importância de se saber a cor do fio dental, se aos olhos dos olhos que de tudo devoram, só se ver como comida o que na boca entala?
Ah, se no mesmo instante que beijássemos, lembrássemo-nos da boca que devora, quais das comidas queríamos ser dentre tantas que se estragam pela fome que nos apressa?
Grego o mundo que levou veneno a boca de Sócrates, enquanto este se tornava a boca do mundo nas tragédias gregas!...
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