A imagem: a ‘carne’, que de tudo nos alimenta!
Por Gilvaldo Quinzeiro
Nem só de arroz e feijão se alimenta o homem contemporâneo,
mas de toda a imagem, que supostamente se ‘emprenha’ do olhar do outro.
Imagine o nutricionista receitando uma dieta para seu
paciente. “Alimente-se daquelas imagens que não despertem a fome no outro”. “Alimente-se
de tudo, menos dos seus fantasmas”.
Claro que em tempo regido pelo imagético, o olhar do outro
é o que nos engorda. Aliás, esta questão que se refere ao “olho gordo”, dele,
os nossos avós já se precaviam.
Hoje, se repararmos bem em quaisquer restaurantes, vamos
nos deparar com a seguinte cena, que, de tão recorrente já nos parece óbvia, e
por isso mesmo ninguém a ver. Mas que
tal cena é essa? Bem, a cena é: costuma-se
antes de comer, enviar a imagem da comida via WhatsApp para, presumo, que outrem
a saboreie antes de nós mesmos, ainda que salivando e já postos à mesa. O que
isso significa? O que isso quer dizer?
Pois bem, a resposta a estas questões acima levantadas
poderá vir de diferentes pontos de vistas, contudo, uma coisa é certa: vimemos sob a égide do imagético. Isto é,
perigosamente somos alimentados dia e noite pelas imagens. Imagens essas que
são ‘pedras e cimentos’ da nossa construção egoica.
Quais as consequências disso? Uma é, primeiro, somos flocos
de neves que, ao mais leve contato com o sol (o da realidade!) se derretem; segundo,
muitas das nossas dores não têm origem
na ‘carne’, logo estas não sangram, contudo, isso não significa dizer que não
sejam provocadas por alguma ferida; terceiro, triste do sujeito cuja dor não
esteja na carne, posto que, assim sendo,
ser-lhe-á difícil de ser arrancada.
Uma certa vez, eu falava com alguém que de instante em
instante se olhava no espelho sob pena de viver uma angustiada sensação de se
sentir “desconstruído”. Fiquei a pensar depois: terá esta pessoa a fome cuja
carne em nada lhe sustenta?
De fato, muitas das nossa angustias, se forem pesadas, vêm
da sensação de que em instante em instante precisamos nos alimentar do próprio espelho.
Sim, somos hoje em tudo ‘desmancháveis’, e em nada
duradouros. Eis o preço de nos alimentar apenas de imagens?
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