Fome de bola!
Por Gilvaldo Quinzeiro
No tempo de fartura de campo, todo terreiro era um campo,
todo terreno baldio era um campo; mas de escassez de bola, usava-se palha de
milho, meia, laranjas – eu era o dono do pé de laranja. Nota-se, pois, que de
bola eu não jogava nada. O muito que eu fazia era implicar para garantir uma vaga
no jogo!
O bom do ‘futebol de laranja’, era poder literalmente comer
a bola a cada bola furada! - o que era a todo instante.
Tinha um menino ‘dono’ do time adversário, o Pedro Bodó,
que chorava quando era derrotado no jogo. Dava pena de ver o Pedro chorar. Não sei
se o choro do Pedro, de fato era em razão da derrota, ou se era com fome de
comer a bola!
Quando hoje eu encontro o Pedro Bodó, sempre me refiro ao
nosso ‘futebol de laranjeira’, e é claro, ao seu chororô!
Quando apareceu as primeiras bolas, isso para nós, meninos
da roça, era as bolas Tostão, Pelé – artigo de luxo! Quando estas bolas
furavam, ao contrario das laranjas, não se comiam: aprendemos dar um jeito de
lhes aplicar um remendo. E aquele menino que aprendia a tal técnica de ‘remendar’
a pelota, este sim, passou a ser o verdadeiro dono da bola. E quanto a mim, continuava
sendo o dono do pé laranja, mas, já não encontrava mais vaga no time com a
mesma facilidade – nem no time do meu amigo Pedro!
Sim, que pena de mim mesmo!
Hoje, os meninos já nascem de chuteira, e antes mesmo de
conhecer a bola, já conta com um empresário e uma conta bancária. E uma das
primeiras providências é fazer um corte de cabelo – daqueles de dá nó em rabo
de burro!
Enfim, são as transformações do tempo, do espaço, das bolas,
das táticas e do jogo. O que não mudou foi o meu desejo de jogar, principalmente
em época de Copa do Mundo!
Comentários
Postar um comentário