Em que afeta a poesia, a extinção dos vaga-lumes?



Por Gilvaldo Quinzeiro



O que a extinção dos dinossauros ocorrido há milhões de anos e a extinção dos vaga-lumes no exato momento em que eu começo a escrever este texto, tem a ver uma coisa com outra? Esta questão a princípio, poderá nos parecer sem pé e nem cabeça, porém, se pararmos para bem pensar, as causas, que motivaram tanto uma quanto a outra são de naturezas monstruosas. A primeira, está relacionado com a queda de um gigantesco asteroide, que devastou em um só tapa, os mais temidos e dominadores animais da Terra, os dinossauros. A   segunda, a dos vaga-lumes, talvez não nos cause tanto impacto momentaneamente, porém, algo de também monstruoso está acontecendo neste exato momento, desta feita, não por um astro errático, mas, por um simples animal bípede, de olhos e boca pequena – um monstro, que se não for contido – destruirá a si mesmo!

Como eu tenho dito, “o homem se transformou no cupim da Terra”.

Pois bem, um estudo conduzido por Sara Lewis, da Universidade Tufts, dos Estados Unidos, conclui que todas as espécies de vaga-lumes existentes no mundo, poderão desaparecer. O motivo: a poluição provocada pela atividade humana!

Não serão só os dias que estamos radicalmente alterando. As nossas noites nunca mais serão as mesmas!

O assunto ora aqui levantado, pode intuir apenas o lado poético, de certo modo alude sim ao poético, porém, está em jogo toda a vida, e com esta, é claro, também toda a subjetividade.

Falar de subjetividade onde estamos perdendo a memória, os afetos e os outros sentidos, é ser saudosista, uma vez que, o ‘dedo’ com o qual antes se apontava o que era pra lá ou pra cá, hoje é escravo do esgravatar, não mais o nariz, mas um novo mundo bem mais perto da boca – o digital, o virtual, e sei lá mais o quê! ...

Afinal como chamar atenção de uma criança presa a luminosidade viciante de um aparelho de celular para os lampejos de um vaga-lume? Aqui está algo que é de natureza não só pedagógica, mas sobretudo filosófica.

Erramos feio ao confundir cabaça com cabeça!

Em outras palavras, assistimos a uma brutal alteração da matriz humana. Enfim, afinal, como alterar a natureza, e não modificar a si mesmo?

Não é que a poesia vai morrer! Claro que não, mas certamente as suas fontes, o seu barro inspirador, estarão cada vez mais misturadas com a lama do fundo do poço. Separá-lo daquilo que é desperdício e não necessário para a construção poética, exigirá cada vez mais, um esforço não pela mão-de-obra especializada, e sim, pela alma humana – aquela que sobreviveu a todo tipo de alteração – se é  que sobreviverá alguma!

Que coisa, meu Deus!

Por fim, o mundo sem os vaga-lumes serão sem dúvida mais escuros, não apenas as nossas noites, mas sobretudo o   dia a dia dos nossos afazeres. Afazeres que estarão cada vez mais sem nenhuma relação com os papeis que nos assegurariam melhores dias!

Que má sorte mãe natureza! Primeiro, foi a extinção dos dinossauros. Segundo, o aparecimento do homem!

Que diabo!




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A roda grande passando pela pequena

Os xukurú, e a roda grande por dentro da pequena...

Medicina cabocla