A antropologia do voto e a importância de ser nordestino!


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

Se de fato somos capazes de perceber “o barro “ do qual são erigidos hoje os edifícios da nossa subjetividade, então, haveremos   facilmente de identificar a presença nociva do poder que emana dos “coronéis da fé” na formação mental daqueles que, em tempos coloniais se chamariam de “moleques de recados”.   É a partir daqui que devemos refletir o significado da importância do voto dos eleitores nordestinos em Lula no primeiro turno das eleições presidenciais – sim, fomos desobedientes!   É a partir daqui devemos ter orgulho da cor do nosso voto e de sermos nordestinos!

Sim, os nordestinos não só conseguiram dar a vitória ao candidato Lula no primeiro turno, mas para além disso passaram por cima das “ordens” de gente muito poderosa!  Sim, os nordestinos contrariaram as ordens dos coronéis da fé; desafiaram os senhores da soja; não se intimidaram com as ameaças, inclusive daqueles que ostensivamente portavam armas, e nem com os achincalhamentos dos sulistas!

  Sim, para além do simples ato de votar, praticamos uma Senhora desobediência! É claro, isso foi mais do que um recado – foi um duro tapa na cara, e um sinal de que estamos bem posicionados em nossas trincheiras!

Nestas eleições, portanto, fizemos ecoar os sons dos atabaques, das matracas e maracás; das violas dos repentistas; dos berimbaus do Pelourinho; do canto das quebradeiras de coco, e, não aqueles cantos fanhosos, que vêm dos interiores dos templos! Isso, meus caros, não é pouca coisa!

 Em outras palavras, da mesma forma que os escravos aprenderam a desobedecer aos seus senhores a não adorar os seus santos – atitude esta   que os estudiosos chamam de sincretismo religioso – nós, os nordestinos que votamos em sua maioria em Lula, ousamos perigosamente desobedecer aqueles que acreditam também serem senhores das nossas vidas!

Nós nordestinos que votamos em Lula ousamos dizer que não estamos dispostos aceitar a visão retrógrada, que agrada aos que se assentam nos tronos da fé ou nos tratores a derrubar as nossas matas!

Demonstramos nesta eleição que, entre outras coisas, no Inconsciente Coletivo dos nordestinos estão vivos os arquétipos de figuras como Maria Quitéria; Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Luiz Gonzaga e (Lampião?)  outros que tais, não há, pois, aqui, espaço para mitos inventados da noite para o dia no sangue das  redes sociais ou nas  pregações duvidosas de pastores (também virtuais!) que, ao invés de agregar, divide, maltrata, discrimina – somos os vaqueiros das nossas vidas!

Sim, somos capazes de reinventar a nossa fé, os nossos sistemas e enlaces. Foi assim em Canudos – e por que não agora? – fomos e ainda continuamos fortes! Este é o exemplo a ser seguido!

Que venha o segundo turno!

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