DA SÉRIE A ANTROPOCRISE (I)

 

“Deus”, os cabos eleitorais destas eleições, e a vara com que se mede as coisas


Por Gilvaldo Quinzeiro

Em que pese as preces e a pressa para que nos elevemos aos céus, nunca tivemos em tempos tão rasteiros a nos assemelhar não aos deuses, mas aos calangos. Por que será isso? -   Como nos diria Protágoras de Abdera, “o homem continua sendo a medida de todas; das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”.

 Em outras palavras é da natureza humana querer medir todas as coisas com o tamanho da sua língua ou encontrar na estranha realidade, que nos abocanha as faces que sejam semelhantes às nossas. Mas quando a face humana é o que mais nos assombra como medir o tamanho do nosso medo?

Ora, o que estamos vendo neste “Brasil acima de todos e de Deus acima tudo” senão o emagrecimento da fé e da espiritualidade. Por que? – Porque a medida de todas  as coisas continua sendo o mesquinho interesse dos homens!

Observe, por exemplo, como as pregações nos templos de hoje têm ecoadas de forma fanhosas e   estranhas: “crianças desdentadas para melhor fazer sexo oral”; ou a morte de um dos seus frequentadores dentro do templo por discussões políticas, e, apesar do ocorrido, o culto continuar normal como se apenas uma galinha tivesse sido morta para, mais tarde, ser servida de apetitoso jantar!

Portanto, irmãos, a vara com que medimos as coisas do tempo em que, apesar de tanta prece, ainda não conseguimos nos elevar a um palmo daquilo que nos faz imerso na libido – trazendo Sigmund Freud para essa discussão que só por ele e a partir dele pode ser explicada – não é outra, senão a vara da nossa feia condição humana!

 Claro que compreendo que Michelangelo era bem mais otimista do que eu ao pintar o teto da Capela Sistina com a beleza da nudez humana – o Papa Júlio II se “embebeu” por ela por quê?

Mas, voltando a Sigmund Freud: “Às vezes nós também racionalizamos, quer dizer, tentamos mostrar a nós mesmos, e aos outros, que temos outros motivos para fazer o que fazemos em certas situações, e não revelamos os reais motivos que nos levaram a agir de certa maneira, simplesmente porque eles são constrangedores demais”.

Por fim, vejamos o que está acontecendo nestas eleições presidenciais: os grandes líderes religiosos do Brasil, especificamente os da denominação evangélica, rebaixaram a figura de Jesus Cristo a de um mero “cabo eleitoral”(?). Como pode isso? – Elevando o seu candidato a condição de “Deus”!

Comentários

  1. Deus é suprema perfeição. Então, sendo Deus, é perfeito, boníssimo e inquestionável. E esse pensamento vem nutrir a ideia de referendo desse Deus personificado, autorizando-o a decidir o que todos querem ou precisam. Mas, a ideia de Deus justo e protetor como um pai é uma ideia de Deus de um tempo civilizatório desenvolvido. A ideia de um Deus mais antigo está ligado a ideia de um Deus mitológico. E nas mitologias têm de tudo. Deus da guerra, Deus de trovões, Deus da morte. Então, o elemento da personificação já é excludente para um Deus dessa era, mas remete a um deus mitológico com direito a intrigas, guerras, ódios, briga por poder ilimitado. Cuidado!

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  2. Perfeito, Ana! Grato pelo enriquecedor comentário!

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