O umbigo da realidade: cadê?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Não espere da realidade o que não é realidade seja lá o que
for a realidade. Pode ser até que você não se encontre nela seja lá você quem
pensa ser – perdemos todos o umbigo, e o procuramos em todas as coisas, exceto
em nós. O derivado disso é: o realmicidio, isto é, a morte da realidade.
E o que é realidade? O edifício da cultura; da sociedade; do
sujeito. O realmicidio é consequência do desraizamento do sujeito. O sujeito desidratado
de si mesmo. O que falar da realidade ou que se esperar dela se se o sujeito
que a subjetivava – o parto do nosso mundo – se esterilizou?
Não espere que as novas guerras sejam anunciadas pelos tiros
de canhões! Não há mais guerras assim.
Não espere ver as trincheiras para, enfim, avistar uma dura batalha sendo travada
para conquistar os preciosos espaços. As guerras de hoje minam todas as formas
de visão, de modo que, ninguém sabe ao certo onde
estar o seu umbigo. E o pior, pode ser
que na nossa mesa de jantar, seja, onde, de fato, a guerra esteja acontecendo,
isto é, as guerras de narrativas. Quem vence este tipo de guerras? Creio que
ninguém, exceto aquilo que vamos passar a chamar de ‘o novo normal’.
Ser um chefe-de-estado nestas condições, se aproxima muito
daqueles reis da antiguidade, onde estes não davam um passo sem antes consultar
os oráculos e os astrólogos. Ou seja, o mundo em nossa volta mudou
completamente – nos restou apenas a antiga configuração dos céus!
Não espere prever ou compreender os episódios
como os do vazamento do vídeo em que o General Gonçalves Dias, que pediu
demissão do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), aparece em “atitude
suspeita” na invasão do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, à luz dos seus
próprios olhos, sem que esta não seja a própria lama, que constitui os
alicerces do nosso escorregadio tempo!
O mundo de hoje nos prova o que para os homens primitivos
era uma questão de vida ou morte: ou você é caçador ou caça. Depende muito de
como você aprendeu a controlar seu fôlego ou odor.
Não espere, portanto, que a verdade que você acredita, e que
por ela jura matar ou morrer, lhe salve das armadilhas esponjosas do nosso
tempo. E que você, por mais inflado que esteja em seu discurso, não passe apenas
da sujeira retida por um instante...
Amém?
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