Um banho de consciência?


 Por Gilvaldo Quinzeiro


Se de fato não conseguimos banhar duas vezes no mesmo rio, conforme dissera Heráclito, a experiencia do viver, de se ter consciência sobre “as águas da vida”, não nos pode ocorrer de outra forma, senão em sendo peixe. Mas ser peixe apenas uma vez na vida, é pouco, é como efetuar um mergulho no rio, que só se constitui rio no seu vir a ser.


Em outras palavras, a experiencia da tomada de consciência numa realidade complexa e não fixa, exige um acumulo e a somatória de experiencias de outras vidas, incluindo aquelas em que tivemos apenas na condição de “lama”?


A experiencia de uma vida só, não nos tiraria da mera condição de bebês!


Sigmund Freud, em experiência clínica com seus pacientes, descobriu o quanto estes não se davam conta da razão das suas queixas, posto que, seus motivos residiam na profundeza do inconsciente. E que a técnica psicanalítica consiste, de um certo modo, em trazer esta existência inconsciente para a consciência – tarefa absurdamente difícil, tanto para o paciente, quanto para o analista.


Não bastasse estarmos mergulhados no inconsciente, ter consciência de alguma coisa, é se dar conta da nossa finitude. Ou seja, a tomada de consciência enfeia o espelho no qual narciso se fixa!


O fenômeno das redes sociais, onde milhões de pessoas fazem uso da “barriga” para tomar sérias decisões com base em apenas suposições, revela por si o quanto podemos morrer no deserto das nossas rasas conclusões sobre as reais águas da vida!


A consciência hoje se tornou o peixe mais raso do rio a nadar quase fora d’agua. De modo que a coisa mais estranha não é o rio, mas o peixe asfixiado por desconhecer a importância do ambiente aquoso.


Há entre nós quem ainda seja um de nós? É possível que não, da mesma forma que o rio não nos permite banhar duas vezes nele. Mas essa é uma questão séria e tardia, levando em conta que as mentes se conformam com a realidade das suas sujeiras!


O adoecer é, de um certo modo, a única forma de nos contatarmos com a borda daquilo que ousamos chamar de realidade!

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