Uma nova cruzada na América Latina?



Por Gilvaldo Quinzeiro

 Os povos antigos como os maias e egípcios quando desejavam compreender para além do seu ‘terreiro de casa”, olhavam para os céus no afã de decifrarem os engenhos celestes. De sorte que quaisquer alterações percebidas por estes, era um claro sinal de que também deveriam assim proceder no plano terráqueo.

Ora, antes de iniciar quaisquer cruzadas, uma nova já está em pleno andamento, se faz necessário no mínimo consultar os céus – mas a questão é o que são ou onde estão os céus hoje?

A clara influência do movimento evangélico, alguns de caráter fundamentalista, hoje na América Latina, é cada vez mais patente e incontestável. O que merece uma atenção e um estudo mais apurado deste fenômeno.

Nas últimas campanhas presidenciais no Brasil, seja no eleitorado, que acompanhou Marina Silva, seja, na mudança de discurso dos candidatos por conta da força evangélica, incluindo o de Dilma Rousseff, foi muito sintomático.

A eleição de Jair Bolsonaro, então, nem sem fala. Ou seja, selou de modo enfático, a saída das pregações que restringia ao   púlpito para às ruas, e mais do que isso, a mão que antes se estendia sobre a bíblia, agora se apega ao poder. E assim como no contexto em que o cristianismo se tornou religião oficial em Roma, há uma retomada das perseguições aos ‘hereges’ – aqueles que pensam diferentes dos dogmas oficiais.

Enfim, os novos tempos cada vez mais nos lembram os velhos.

Estamos marchando para uma teocracia? – É possível que sim. Eu venho chamando atenção para isso há um bom tempo.  A marcha dos acontecimentos nos leva a pensar que a religião e política se tornarão um romance ao estilo de William Shakespeare: um casamento trágico, mas possível.

A   recente autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Añez Chavez, fez questão de exibir uma bíblia ao tomar posse do novo governo, em claro sinal de que a religião, no caso a dela, passará a ter influência sobre a população boliviana, que é se não a maioria, mas certamente uma grande parcela de indígenas, que possuem outras crenças.
Às críticas e as pressões  que se fazem ao papado de Francisco, também se inserem no atual contexto. Ou seja, são narrativas construídas no âmbito de uma disputa maior e mais complexa. 

O fato é que há, como já escrevi em outros textos, uma verdadeira ‘guerra santa’ pelos domínios dos finais dos tempos – uma espécie de último suspiro! Que ‘deus’ vencerá? Que povo será o escolhido? Quem afinal terá o direito de usufruir dos últimos recursos da Terra?  

Enfim, a fila dos que ‘vão para os céus’ não só fica cada vez maior, como há quem se acotovelam na pressa para ser o primeiro.

Amém?  

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