Em tempos rápidos, um duro e demorado trabalho de parto
Por Gilvaldo Quinzeiro
Que já perdemos a diferença entre o ‘bem e o mal’, isso é indiscutível,
basta ouvir os discursos inflamados, e em quase carne viva das nossas autoridades religiosas.
É bom que se diga, entretanto, que este fato não se restringe às autoridades eclesiásticas,
se estendendo também a todas aquelas outras que,
diante dos primeiros ‘sacolejos epistemológicos’ ou conceituais, não só
perderam a compostura, mas sobretudo o rumo das coisas! Não estou dizendo isso
para que fujam dos templos, dos fóruns, das academias, dos gabinetes e
catedrais, todavia, não há como negar que alguma coisa está fora do lugar!
O caso recente de um aluno da Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia(UFRB), que se recusou a receber uma prova das mãos de uma professora
por esta ser negra, é o começo do nosso mergulho na total escuridão. E não se trata de um episódio isolado, mas se
soma a tantos outros que vêm ocorrendo diariamente! Se a moda pega, e pode
pegar, assistiremos pais de alunos se recusando que seus filhos assistam aulas
na mesma sala que os alunos negros. Ou seja, estamos caminhando a passos largos
para o nosso ‘apartheid’!
No bojo de tudo isso, está a velha dualidade entre o bem e o
mal. O que não nos damos conta ainda é
que, em se tratando de uma ‘realidade porosa’ como a nossa, apontar o dedo seja
pra que lado for, corre-se o risco do próprio dedo cair por falta de
sustentação.
Não há, pois, como negar que estamos momentaneamente
perdidos. Chamar a nossa crise de momentânea é de um eufemismo proposital. Pode ser que levaremos um longo tempo até que
encontremos um punhado de luz pela rachadura da caverna. Isso depois de quebrar
muita cabeça...
E a culpa é de quem? De todos nós!
Na verdade, tudo isso que estamos assistindo estava latente;
recalcado em nossos porões – só aguardando o momento de eclodir.
Em outras palavras, nós não conseguimos nos tornar melhor;
nem pela via religiosa ou familiar, e muito menos pela via política ou educacional.
Soma-se a todo este quadro as transformações de ordem geofísica
por que passa a Terra. Ou seja, somos
uma espécie de sobreviventes das catástrofes que, a bem da verdade, estão
apenas iniciando – coisas piores estão à caminho!
Meu Deus!
Pessimismo? – não deixa de ser. Todavia se trata mesmo de um
olhar sobre o tempo, as coisas e o nosso cotidiano. Ou seja, trata-se da constatação de que de
que aquilo que chamamos de ‘civilização’ ou outras coisas que tais, são tênues -, uma espécie de mera casca de ovo a não
suportar as primeiras pisadas!
Por fim, e numa visão otimista, estamos todos grávidos de um
outro mundo, mas até nós parirmos, seremos naturalmente suas dores e contrações.
Ufa!
Comentários
Postar um comentário