Da série olhos nos céus (IV). A Astronomia Cabocla
Por Gilvaldo Quinzeiro
Assim como os maias, os astecas, os egípcios, o sertanejo, refiro-me
de modo enfático o nordestino, tem os seus sistemas de peso e medidas, como por
exemplo, a ‘abraça’, o ‘palmo’, etc. É claro que como todos os povos agricultores
como os aqui citados, o sertanejo também tem o seu calendário e
consequentemente a sua ‘astronomia’.
Em outras palavras, os céus para o caboclo, prefiro usar
essa expressão porque também me homenageio, é o chão. Ou seja, não há um palmo
de terra ou uma semente lançada a terra sem que antes se verifique as cores, os
ares, os contornos dos céus.
O caboclo acorda cedo, as vezes antes mesmo das galinhas, e
não para ir logo passar o café. Não. O caboclo acorda cedo para consultar os
céus: é disso que depende o seu plantar e colher; a sua caçada e pescaria; a
fartura e a escassez; a cura e a doença. Ou seja, olhar os céus é tão
importante quanto o próprio cultivo da terra!
A Lua é um dos astro predileto do caboclo. É o que podemos
representar na cultura cabocla do feminino; a fertilidade. Um caboclo que não
sabe identificar as fases da Lua é um inerte, isto é, alguém que não sabe usar
a foice ou o machado – um nada, digamos assim! Mas, não é só em relação ao
plantio que o sertanejo utiliza-se da interpretação das fases da Lua. Os
negócios também; as viagens; as mudanças; as construções de casas; a estética;
o uso de medicamentos. Tudo isso depende da interpretação de qual fase se
encontra a Lua.
A ‘estrela Dalva’ ou a ‘Papa-ceia’ como o sertanejo chama o
planeta Vênus é outro astro importante na Astronomia Cabocla. A importância de
Vênus, entre outras coisas, está relacionado ao processo de cura – algo como o xamanismo,
embora essa tradição esteja desaparecendo.
Mas um calendário, que não prever “o fim do mundo” não
estaria completo. Na Astronomia Cabocla não poderia ser diferente. Mesmo? Sim.
O Caboclo sabe mais de Astronomia do qualquer alunos de ensino médio, pasme, até
mesmo de universidade! Salve a sabedoria cabocla!
“Os(as) sete estrelos(as)” ou as plêiades como vemos na foto
de Pedro Henrique é uma constelação chave no que diz respeito ao ‘apocalipse
caboclo’. Isso ocorrerá, segundo a tradição cabocla quando tal constelação for “avistada
no mês de maio” – se acontecer, ou seja, do avistamento do “7 estrelas” no mês
de maio – então estamos fritos!
E mais! O Ano Novo do caboclo não se inicia no dia 1º
de janeiro, e sim, no dia 13 de dezembro – dia de Santa Luzia – é neste dia que
se faz as ‘experiências’ com as pedras de sal, entre outras, relacionados as
previsões meteorológicas, ou seja, se haverá chuvas ou não e a partir de que
dia ou semana. Coincidência ou não Santa Luzia, na tradição, está relacionas os
olhos e as visões!
Enfim, o caboclo assim como Sigmund Freud tem as suas explicações!
Boa noite a todos!
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