As mãos trêmulas de Eros em tempos certos de tragédias . Cadê as utopias?


Muitos não dirão, mas eu digo, não vivemos uma “belle époque” ou “os loucos anos 20”, embora, muitos vivam hoje alucinadamente em bunker, enquanto outros, os também afortunados estão em contagem regressivas para irem a Marte – a feitura e a feiura do nosso tempo anunciam que estamos lascadamente em carne viva! Isso até pode soar como algo sonoramente erótico ou de natureza libidinosa, mas não é. Antes fosse!  A questão, entretanto, é que a “cobra humana” perdeu a pele, e somente um novo “tecido civilizatório " poderá nos salvar. Mas, isso não se resolve sem que a cobra morda o próprio rabo.

Sobre Eros, aquele filho de Ares e de Afrodite, hoje flerta com a nossa pele encharcada de feridas, e suas flecham só acertam os nossos alvos já intoxicados. De sorte que os amantes, cada vez mais de calcas curtas, preferem a ostentação dos seus coletes à prova de caricias! Ninguém ama além dos seus próprios músculos. 

Ora, o dito acima revela duramente uma coisa: perdemos a utopia. Perdemos a capacidade dos toques; das caricias. O feminicidio, por exemplo, virou “cachaça” na boca de homens ciumentos!

 E o que nos restou como alento? Ora, o que é utopia hoje, senão a “cultura do arrebatamento” – é isso que tem servido de alimento as novas gerações. O leitor pode intuitivamente estar me perguntando: há alimento melhor que este em tempos de tragédias? 

Pois bem, se estamos provocando Eros, isso tem que que ser feito com o uso da “vara de Freud”.  Ora, a “cobra humana” está mordendo o próprio rabo, é disso que estamos sofrendo.  A “coisa freudiana” hoje nos engole? Dito isso, eu respondo freudianamente:  o melhor mesmo não há quando o próprio homem desiste de compreender a si mesmo!

As tragédias, não esqueçamos, sobretudo as existenciais, digo, dos nossos fracassos humanos, têm uma mão trêmula de Eros, que nos errou o alvo! Ou seja, é “casca de bala”, os hits, as canções que nos embalam. Isso é sofrer duplamente!

Desistir de compreender a si mesmo é deixar de se banhar no mar de perguntas que as tragédias atuais nos impõem. É regredir a uma quase vida de um inseto; é jogar a toalha, e se entregar na condição de farrapos!

 Desistir da compreensão de si mesmo   é promover o desabamento da estrutura civilizatória.   

Sim, uma das feiras do nosso tempo são as preces apressadas pelas “pílulas milagrosas”.  É claro que ninguém quer a dor, mas sem esta, qualquer remédio, é uma invenção sem propósito. 

Por fim, ou nos entendemos com o filho do deus da guerra e da deusa do amor, ou   as velhas feituras do nosso tempo, que já nos apressam por uma resposta pronta a nossa atual desarrumação civilizatória: a guerra   em escala global! 


Gilvaldo Quinzeiro

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