A realidade, a dor e as nossas reações
Por Gilvaldo Quinzeiro
A insuportável dor de não poder suportar dor alguma: será
esta uma síndrome que acomete as novas gerações? Caso a resposta seja
afirmativa, então o que mudou – a realidade, que supostamente se tornou mais dura
ou o sujeito se tornou visivelmente mais quebradiço?
As questões acima nos servirão de motivos para escrever este
texto. Sabemos o quanto será espinhoso o nosso esforço, contudo, vamos fazer esta
tarefa ainda que, como diria um sábio amigo meu, com uma “escrita obtusa e
tortuosa” – é este o nosso estilo.
Nos últimos tempos, eu tenho feito da minha escuta aos
jovens, uma espécie de termômetro ou indicador no que tange à medição da
temperatura das condições psicossociais da nossa sociedade. Faço isso da mesma forma que os caboclos observavam
os comportamentos dos animais, insetos ou plantas na intenção de detectar, por
exemplo, alterações meteorológicas, como ocorrência de chuvas ou estiagem.
Eu tenho me utilizado nesta escuta dos relatos orais,
interpretação de sonhos e expressões faciais, entre outros. Isso me permite de
alguma forma, não sanar a dor do outro, mas ao menos aprender a localizar as
minhas.
Pois bem, a dor é parte das condições humanas. Tomamos
contatos com ela, a dor, desde o nosso nascimento, sendo esta sentida desta
feita, pela nossa mãe – indicativo de que fomos por esta de alguma forma
poupados? Mas, e quanto aos bebês também sentem dor ao nascer? – é possível que
sim, embora esta, talvez, não seja ressignificada nem ao longo da vida.
E os jovens? Bem. Os jovens em todas as épocas vivem em seu
mundo particular no afã de evitarem a dor ou a ela se anteciparem. Entretanto, para seguir em frente com este
assunto devemos nos colocar uma outra questão: do que enfim é constituído o
mundo do nosso mundo em que os jovens de hoje edificam os seus?
O mundo atual está literalmente grávido de outro mundo, mas
até este vir a parir, nós seremos suas dores e contrações. A pergunta agora é:
nestas condições quem ainda estará de pé?
Ora, se nós pais e educadores estamos nos sentindo rachados
ao meio, imagine os nossos filhos e alunos! E assim sendo, em que tipo de
‘espelho’ nos tornamos para eles?
Veja, meu caro leitor o quanto a questão levantada aqui é
complexa e espinhosa! Vai querer ainda me acompanhar com ela?
Se nós chamarmos de ‘realidade’ os fatos, que impactam a
vida do sujeito, exemplo, uma perda amorosa, a correria do dia a dia, uma não aprovação no
vestibular, uma traição, enfim, algo que seja o motivo do sofrimento do
indivíduo, vamos constatar que não é o acontecimento em si o único responsável pelo desmoronamento do sujeito, por mais que isso seja querer simplificar a dor do outro,
todavia, isso se deve também ao seu padrão de respostas a estas situações.
Em outras palavras, é o sistema de defesa do sujeito que está sendo falho ou
inadequado, além de potencializar um acúmulo de tensões desproporcional e
tóxicas, digamos assim.
O dito aqui nos leva a concluir que não é natureza dos fatos
que devemos temer, posto que contra estes nada podemos fazer, mas sim devemos
ao menos aprender com a natureza das nossas respostas, pois são estas que se
repetem ao curso de uma vida sem que sejamos exitosos.
Um copo d’água, por
exemplo, será sempre um copo d’água, mas são as nossas respostas a ele, como diriam as
nossas avós, as causadoras de tempestades.
Portanto, não gerar e nem se afogar na ‘onda’ provocada por
uma resposta a uma determinada situação, eis a nossa dica.
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