E aí seus meninos, com que mão se lava a outra? Uma incômoda reflexão acerca do mundo em que vivem as nossas crianças!
Por Gilvaldo Quinzeiro
Atiçar o fogo, coisa simples que muitos meninos aprendiam
desde cedo a fazer na roça, ou na beira
de um fogão de lenha com muita
algazarra, diga-se; hoje, poucos meninos fariam isso sem que não viessem a se tornar
com muito mau humor, “em pau de coivara”,
ou seja, na própria madeira a ser queimada!
Que coisa assustadora isso, não? Pois é, esta é natureza dos
tempos: a complexa ‘trempe’ dos nossos dias, onde uma mão frita a outra por não
se saber a que pertence(?).
Em outras palavras, falta a muitos garotos de
hoje, como aqueles que provocaram o atentado na escola na cidade de Suzano, na
semana passada (hoje faz exatamente 8 dias) ou como tantos outros, que estão na
fila aguardando só uma oportunidade para repetir a mesma ação criminosa -, a ‘peneira
filtradora’ entre ficção e realidade; o
claro discernimento entre o consigo
mesmo e a alteridade.
Pobres garotos ou pobre sociedade sem os devidos contornos
da realidade?
Para estes mesmos garotos, uma palavra dita, pode ter o
mesmo efeito devastador e aleijador que o disparo de uma arma de fogo. Faltam-lhes,
pois, a ‘pele protetora’ para estes tipos de situações! Todos estão em carne
viva!
Se os meninos antes eram criados à beira dos fogões ou no
meio dos terreiros, onde também aconteciam os vários tipos de competições e até
xingamentos entre estes, e, pasme! todos sobreviviam! -, os de hoje são
criados como coisas em um canto isolados de uma sala ou de um quarto, às vezes
iluminados só pela tela de um computador, fora do mundo real, mas expostos perigosamente
a todo tipo de fantasmas virtuais!
Em que mundo vivem hoje os nossos filhos, primo?
E assim, os meninos perdem a noção de seus corpos físicos. Muitos não bebem, não comem e nem dormem. É o
que muitos especialistas têm chamados de ‘geração zumbis’.
Nestas condições, para tomarem ciência das suas existências,
o que lhes restam fazer senão se arremessarem contra a mesma realidade, que
desconhece, não obstante que para isso o próprio corpo seja utilizado(?).
A automutilação, por exemplo, algo tão
recorrente entre os jovens, especialmente, do sexo feminino, pode ser explicado
a partir deste viés?
Quem eu sou se não me sinto?
Eis a questão.
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