A palavra, os palavrões e o efeito bumerangue

 Por Gilvaldo Quinzeiro 
A palavra, em certas circunstâncias em que o ambiente se torna um ‘barril de pólvora’, pode, mesmo quando dita sem a intenção de matar, provocar estragos que nem com o passar do tempo poderão ser cicatrizados. A palavra, portanto, tem um lugar gestador sem o qual não haveria a quem esta se destina! Ou seja, sem “o cheiro, as cores e os ruídos dos ambientes” não há como se engravidar das palavras. O anunciado acima serve apenas de uma breve introdução para o que queremos chamar atenção, no que tange ao momento atual vivido no Brasil, mais especificamente no se diz respeito ao ‘enrijecimento da palavra’. Quando se diz enrijecimento da palavra não se quer dizer que a palavra, enfim, passou a ter valor. Pelo contrário, se quer dizer que a palavra nada mais tem a dizer. O Presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, se tornou campeão deste tipo de “enrijecimento da palavra”. Com ele, Jair Bolsonaro, a palavra se torna enrijecida com a mesma natureza que um soco na cara, todavia, estas, como no efeito de um bumerangue o torna alvo fácil. Isto é, soam como um tiro no pé. E como efeito tardio, tenta em vão delas, as palavras, se desvencilhar desassociando-as da condição de seus atos. A um ‘desdizer’ constante por parte do Presidente! Ora, assim como não há filho sem mãe, não há uma palavra proferida que não tenha suas raízes no ventre de alguma coisa. Assim sendo como diferenciar a palavra do ato – não é a mesma equação pela qual “o verbo se fez carne”? Pois bem, sem que se assuma a responsabilidade pelos efeitos das palavras ditas, o Brasil aos poucos vai se tornando numa espécie de “Republica dos Palavrões”. A “República dos Palavrões”, onde ódio faz com que se confunda ameaças de morte, bem como a formação de milícias armadas, que investem contra a integridade física das pessoas e a derrocada das instituições - com a liberdade de expressão! O uso constante de palavrões como se isso resultasse no aumento da própria força, é um sinal do enfraquecimento da condição do sujeito e consequentemente do enfraquecimento de todos os laços civilizatórios. Os mesmos laços que são constituídos também de palavras! Ora, cara pálida, de que palavras tu foste criado?

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