No caos: polarizar ou problematizar?


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

 

A polaridade ou a polarização, que no Brasil de hoje se encontra violentamente visível com seus efeitos devastadores, dilacerando almas e corações, fato este já presente há algum tempo entre nós, mas que em época de pandemia abre todas as nossas feridas, é uma das 7 leis herméticas, conhecida desde à antiguidade, especialmente pelos egípcios. Atribui-se a Hermes Trismegisto, o seu criador. Diz a lei: “Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados”.

Conforme os antigos, a polaridade trata-se, portanto, de uma lei universal, ignorá-la é como levar à mão ao fogo, e se surpreender depois com a queimadura!

A eletricidade com os seus fenômenos só é possível ao resultado da polaridade, ou seja, o polo positivo e o polo negativo.  O tempo e o espaço, por exemplo, forma o que poderemos chamar das condições existenciais observáveis ou os fatos históricos.

Dito isso incialmente como pilares conceituais, vamos agora iniciar um ‘enveredar’, isto é, arriscar abrir caminhos, mesmo nos expondo aos arranhões, bem ao risco de nos perder.

Partindo, então, das premissas acima, o bem e o mal, a verdade ou não verdade fazem parte de um mesmo contexto. De sorte que, querer eliminar um, pode incorrer no erro de um médico que, na intenção de extirpar um tecido podre, sacrifica o corpo todo. Em outras palavras, é preciso ler, compreender e respeitar as leis que regem a realidade.

Ademais, polarizar, isto é, tornar-se um outro polo, é portanto, sustentar uma situação dada na condição de um dos seus pilares.  Tal situação pode resultar na origem do caos, como o que estamos podendo presenciar ou sustentar no Brasil. Ou seja, a crise da Covid-19 está sendo agravada pela polarização existente em nossa sociedade.

 Como assim? Quer dizer que podemos estar com a nossa postura comportamental servindo de base para o caos? Sim. Exatamente!

Mas para facilitar a nossa compreensão, vou comparar a nossa participação na condição de um polo, numa determinada situação dando o exemplo do espelho. Da mesma forma que quando estamos de frente a um espelho, fazemos parte de uma polarização, só que a imagem com a qual se cria a polaridade é a nossa, logo, estamos ‘cegos’ para qualquer outra imagem que não seja a do espelho. Aqui tem algo também que nos remete a figura do Narciso ou ao do narcisismo com todas suas implicações, tais como o orgulho, a vaidade e a soberba.

Pois bem, quando nós polarizamos tornamos escravos das nossas imagens, das nossas convicções, portando, ‘cegos e surdos’ a tudo que não diga respeito a nós mesmos. Eis portanto, a explicação pelo qual nós estamos sendo responsáveis  em certo sentido pelo caos em que vivemos. Ou seja à medida que tornamos das nossas posições em relação à qualquer assunto, uma espécie de “fla-flu”, estamos sendo o motor de discussões muitas vezes doentias e desnecessárias.

Há, portanto, uma outra categoria, esta sim,  de extrema necessidade para os nossos dias, mas que é confundida com polarização, que é da problematização, esta sim, é saudável e oportuna.  A problematização no lugar da polarização   abriria condições para tornar os nossos dias ao menos suportáveis.

Por exemplo, melhor contribuição estaríamos prestando ao Brasil, se ao invés de polarizar a respeito do uso da cloroquina, se esta é direita ou de esquerda, como temos feito até agora, se estivéssemos problematizando-a. Talvez, a problematização a respeito do seu uso, e não a doentia polarização, pudesse ao menos poupar a nossa energia e tempo para o que ainda há de vir no contexto desta pandemia.

Da mesma forma, em relação a questão do isolamento social. Ou seja, o saudável e o inteligente, seria problematizar, e não polarizar.

Polarizar, portanto, significa manter ou prolongar uma determinada situação por conta de que um dos polos, se tornou, como se olhando no espelho, ou seja, apenas para si mesmo – cego para aquilo que não seja algo que diz respeito ao seu pertencimento. Já a problematização, implica em flexibilizar a postura, ou seja, sair em busca de resposta para um problema que é todos!

 

 

 

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