A ‘imediatidade’ das coisas, e o tipo de rio que estamos mergulhados
Por Gilvaldo Quinzeiro
O que é o “hoje” a despeito do “ontem” que também não nos
demos conta que já passou? O que é o “novo” a despeito do “velho” que não
dispõe de condições para o seu envelhecer? Estas são as questões que nortearão
a nossa reflexão ao longo desse texto. A nossa intenção, entretanto, não é respondê-las,
posto que devido também a nossa pressa não tenhamos as respostas; respostas
estas que precisariam de um certo tempo para serem amadurecidas. Assim sendo, o que objetivamos aqui é suscitar
outros questionamentos acerca dos fenômenos do nosso tempo. Claro que ainda
assim, não estamos fazendo nada de diferente que outros não tenham feito a
respeito de suas respectivas épocas. Fazemos isso como um exercício de quem se
acostumou a pensar. Nada mais, além disso. Contudo, se tal exercício reflexivo
servir de base para outros pensadores, oh! que maravilha! Daremos a tarefa como cumprida!
Pois bem, tal é a ‘imediatidade’,
aproprie-me de um termo usado por Jessier Quirino, das coisas que se sucedem (uma após a outra) a uma espantosa velocidade que não temos ‘olhos’
para tais. Isto é, de certo modo estamos ‘cegos e surdos’ em relação às
avalanches de acontecimentos, que inundam os nossos dias. Estamos mergulhados
na ‘mesmice’ do rio – não rio aquoso, mas daquele em que acreditamos fazer
parte, ainda que sem o contemplarmos em parte alguma.
Em outras palavras, nós não temos mais condições
perceptivas no que diz respeito à compreensão do momento atual. Tal é o a
velocidade com que “o novo” envelhece ou entra em desuso, a exemplo das novas tecnologias,
como os celulares e aplicativos que antes mesmo de aprendermos a manuseá-los,
em seguida, estes, são substituídos
por outros. Por outros que antes mesmo de chegar às nossas mãos já envelheceram!
Ora, o que os tempos atuais diferem daqueles em que os
filósofos gregos Parmênides e Heráclito se opuseram naquilo que é considerado à
velha peleja filosófica, ou seja, o imobilidade X movimento ; o ser e o não ser. A mesma peleja,
que levou Platão a se meter no meio da discussão apontando o “mundo sensível e
o mundo das ideias”.
Ao menos as questões levantadas naquela época, digo, na
época de Parmênides e Heráclito, revelam quão estavam bem afinados os dois
filósofos com o seu tempo, conquanto,
divergentes.
E nós estamos fazendo que tipo de perguntas acerca dos
nossos dias? Qual a consequência da velocidade
destas mudanças na lenta e sofrida construção do sujeito?
Eis um dos sintomas
dos nossos dias: a fixação naquilo que não sabemos contemplar! Ou seja, estamos
de tal maneira, mergulhados na ‘imediatidade’
das coisas que, de tanto nos parecerem óbvias, estamos ‘cegos’ de vê-las. Mas,
que absurdo! Como ver assim? Como se dá conta da realidade na condição de ‘cegueira
perceptiva’?
Portanto, o dito aqui nos faz chegar à conclusão de que estamos
presos a uma espécie de ‘bolha de sabão’.
Tal é a rapidez com que as coisas surgem e desaparecem. Ora, isso implica ao menos numa pergunta: que
tipo de ‘peixe’ somos – a bolha ou o sabão?
Ótimo texto!
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