O Corpo. Este lugar prenhe de desconforto!



Por Gilvaldo Quinzeiro


Na semântica do corpo, o gozo é ato devorador de significados: nada aqui é possível do alcance da palavra! É uma espécie de ‘buraco negro’, onde a luz das estrelas espraia em escuridão.  Mas não gozar, contudo, significa ter domínio do jogo entre significantes e significados – é a prevalência do errático, tal qual, um fragmento rochoso a deslizar-se no firmamento.

Ontem numa conversa entre amigos, ouvi um comentário que, no momento não me chamou atenção, mas, aquilo me fincou pensamentos.... Dizia o comentário: “Eu fico desconfortavel entre o buraco existente entre uma fala e outra”. “Como assim”? pensei cá meus botões.

Quis dizer o meu amigo em seu comentário acima do seu silêncio ou do incômodo de não se apropriar da fala do outro? Ou simplesmente o seu desconforto era apenas uma fala vinda dos lugares longínquos do seu próprio corpo?

Pois é, o assunto aqui nos remeteria às coisas freudianas, com uma boa dose das inspirações dionisíacas!

O Corpo é este lugar prenhe de desconforto. Talvez por isso, o gozo lhe soe como a mais incompreensível das palavras. Dai vem a necessidade da repetição, dos rituais e de tantas coisas substitutivas e metafóricas.

O Corpo é este lugar cuja paisagem resiste a uma narrativa. Não que isso signifique silêncio, mas, lugar de mistérios como esfinge.

O Corpo é a ‘útero’ para o qual ensaiamos o retorno, especialmente quando o lá fora nos parece ser tempestuoso. Eis aqui os sinais e as narrativas. Uma escrita outra. A mão, que roupa da outra mão. Enfim.

Mas voltando ao espanto do meu amigo. Sim, uma conversa é permeada de intervalos, de fendas abismais, de crateras... E de tudo. A questão é como perceber isso e ao mesmo tempo permanecer de pé. Em outras palavras, numa conversa, faz-se uso não só da fala propriamente dita, mas, daquilo que na própria fala se oculta. Captar isso é assombroso! Meu Deus!

Enfim. Ouvidos há que não estejam surdos. Mas ensurdecer-se aos ouvidos do outro é falar sozinho, não?





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